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"[...] cá entre nós, isto é uma parábola: um bom astrônomo saberá ler nas estrelas sinais e símiles que nos permitem silenciar muitas coisas." (F.W. Nietzsche)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O CINTURÃO Ψ

O CINTURÃO PSI
(OU: Homologias fractais e o Umbral de Consciência)



"Dorme, guarda, até que as Esferas 
Tenham rodopiado mil eras
E que eu arda ao retornar 
Onde hoje é meu lugar
Novos Astros chegarão 
E no céu se instalarão:
Astros que louvam, acalantam, 
E o suave olvido implantam.
Somente quando eu terminar o meu giro
O Passado virá a inquietar o teu retiro"
 - H.P. Lovecraft, "Polaris".

                Do Sol até Marte, temos estudado as forças astrológicas como uma manifestação, em um nível fractal galáctico, de certas forças essenciais (arquetípicas) que se manifestam da mesma forma no nível fractal da mente humana: o estudo dessas homologias fractais, a forma de pensar de todas as ciências milenares, é a própria prática da Astrologia.
                E como tudo o que é arquetípico e manifestado na Matéria se repete em diferentes níveis fractais do universo, é fácil encontrar certas relações que a ciência moderna entende muito mal; por exemplo, um mesmo arquétipo, ao ser manifestado, se quebra em um par de princípios opostos, então uma única manifestação gera “espelhos” de si, como os pares de signos: por exemplo, o eixo Gêmeos-Sagitário diz respeito ao intelecto, manifestado desde o ponto de vista informacional e amoral de gêmeos até o caráter sacralizante e ideológico de Sagitário: um degradée de tons de um mesmo processo. 

                Seguindo o esquema estrutural da Psique proposto por Jung, Moyano e outros, as forças organizadas até aqui agem diretamente na base da construção do pensamento, ou seja, são forças condicionantes do pensamento. Uma vez que o pensamento adquira suficiente força de ligação com o Sol (self anímico) ele ascende pelo umbral de consciência Psi (Ψ), onde está à mercê de outras forças, similares às anteriores, porém pertencentes à esfera de Luz da Psique, à plena consciência. É como uma nota musical que se repete em oitavas superiores (dó menor, dó sustenido, dó maior e assim por diante). Essa analogia é tão exata que vou usar a expressão ‘oitavas superiores’ para designar a repetição de uma mesma força astrológica na Esfera de Luz!

                Mesmo se pensarmos em termos da Astrofísica, os corpos celestes de Mercúrio até Marte são substância mineral, cujas células de convecção térmica se organizaram de forma a condensar o material pesado no núcleo e trazer os leves à superfície, onde resfriaram e formaram rochas. Pode-se andar sobre eles, em teoria.

                Já a partir de Júpiter, os planetas se formaram por acreção (junção e condensação) de poeira e gases cósmicos, sendo efetivamente grandes bolas de gás condensado, com grandes tempestades e temperaturas letalmente baixas. É possível pensar neles como pertencentes a uma ordem mais etérea e imaterial, e sua distância e lentidão de sua precessão fazem com que sejam chamados com freqüência de “astros geracionais”, pois especialmente os planetas trans-saturninos podem ficar numa única casa zodiacal por uma geração inteira de humanos.

                O que vou apresentar em seguida é uma adaptação de uma teoria desenvolvida pela Sociedade Astrológica da Grã-Bretanha sobre a antiga “Lei” de Bode e suas conseqüências para a organização conceitual das esferas planetárias.

A LEI DE BODE

                Formulada originalmente por Johann Titius em 1772, e popularizada por Bode, foi tomada na época como uma lei científica até a descoberta de Netuno, que escapou da regra, derrubando a lei.
                Comecemos construindo uma série A = {a1, a2, a3,...,an} onde a1 = 0, a2 = 3, e os termos seguintes são o dobro do anterior:

0, 3, 6, 12, 24, 48, 96, ...

                A Série de Bode pode ser expressa por  B = {b1, b2, b3,...,bn} tal que Bn = (an + 4)/10, ou seja, soma-se quatro aos termos da série A e divide-se o resultado por 10:

0.4, 0.7, 1, 1.6, 2.8, 5.2, 10, ...

                A distância linear entre o Sol e a Terra é de 93.000.000 milhas, distância que se tornou medida-padrão na mecânica celeste como a Unidade Astronômica (UA). Se compararmos a distância dos planetas ao Sol, em termos de UAs, com a série de Bode, temos:

Planeta
Distância em UA
Série de Bode
Mercúrio
0,39
0,4
Vênus
0,72
0,7
Terra
1
1
Marte
1,52
1,6
?????
----
2,8
Júpiter
5,2
5,2
Saturno
9,54
10

                Quando Bode chamou a atenção dos astrônomos para esse fato, na época, pensavam estar diante de uma lei mecânica! E foi considerada assim por certo tempo, mesmo com o vácuo na série entre Marte e Júpiter: o próximo termo da série seria 19.6, e quando Herschel descobriu Urano a 19.18 UA, a lei de Bode realmente parecia certa!

O primeiro asteróide foi descoberto a 2.8 UA pouco depois, preenchendo a lacuna. Muitos outros asteróides foram descobertos perto deste, e especula-se que tenha sido antes um planeta, destruído e reduzido a asteróides.

                A posição do próximo planeta foi procurada a 38.8 UA, mas quando encontraram Netuno, a 30 UA, a posição científica empirista e rígida declarou que a lei de Bode era mera coincidência e não podia ser usada. Plutão, no entanto, foi encontrado em 1930 a 39.44 UA, preenchendo a posição que caberia a Netuno.

                O próximo número da série é 77.2; em 2004, foi descoberto o planetóide Sedna, que tem uma órbita extremamente elíptica e uma precessão de 5 mil anos em volta do Sol; no solstício de verão, o ponto mais próximo do Sol, Sedna está a 76 UA, de acordo com a Lei de Bode, mas no inverno está a 900 UA do Sol, efeito de sua órbita irregular. Sedna, e o teórico cinturão de Oort, serão objeto do meu último artigo dessa série, aguardem!



ALÉM DA LEI DE BODE: 
PARES ESPECULARES E HOMOLOGIA ESTRUTURAL FRACTAL

                Até agora foi apresentada a Lei de Bode, que pode ter um fundo harmônico ou ser apenas uma coincidência numérica, mas o mais interessante, e útil, está por vir.

                Vamos considerar o período de cada planeta, que é o tempo que leva para dar uma volta em torno do sol. A Lei de Kepler estima que o quadrado do período, T, é proporcional ao cubo da distância R:

é proporcional a

 Planeta
Período real
Período de Bode
Mercúrio
0,24
0,25
Vênus
0,61
0,6
Terra
1
1
Marte
1,88
2
Cinturão Ψ
4,66
4,68
Júpiter
11,68
12
Saturno
31,6
29,5
Urano
84
86,8
Netuno
164,8
----
Plutão
247,7
247,7

Estes números encerram em si uma série de “coincidências” que o Astrólogo experiente saberá usar a seu favor. Netuno está à parte no esquema, o que se justificará pela própria natureza da Esfera de Netuno: uma força onírica, de ideais e escapismos, de negação da realidade concreta, material. Parece que o próprio Astro, regente de Peixes, se recusa a participar da ordem geral e orbita, sonhador e distraído, no ritmo de seu próprio alento. Voltando aos números, de especial interesse aqui é a relação que se segue:

                Chamemos o cinturão de asteróides de Ψ, e organizemos os planetas em torno dele em pares, de dentro pra fora:

Marte/Júpiter
[Terra/Lua]/Saturno
Urano/Vênus
Mercúrio/Netuno

                Para cada “par”, vamos calcular a razão de seus períodos, medidos em anos terrestres:
Razão
Marte/Júpiter
6,3
Terra/Saturno
29,45
=
6,3
x
4,67
Vênus/Urano
137
=
29,45
x
4,65
Mercúrio/Netuno
684
=
137
x
4,99

Esse fator multiplicador, em torno de 4,66, é o valor que resulta para uma órbita de Kepler calculada a 2.8 UA, ou seja, o período teórico do ex-planeta destruído que chamaremos de Cinturão Psi.

                Se considerássemos o par Lua-Plutão, teríamos

Plutão-Lua
3319
=
684
x
4,85
               
Porém, Plutão terá outra importância no sistema, pois passaremos do sistema solar moderno, objeto de estudo da Sociedade Astrológica britânica, para o sistema aristotélico, um modelo mais coerente e uma conclusão mais incisiva podem ser alcançados.

Até aqui, o modelo de um sistema solar que tem no Cinturão Psi um eixo de simetria nos permite organizar o sistema como um fractal, fato corroborado pela diferente natureza física dos dois tipos de planetas, com cosmogêneses diferentes e uma analogia mitológica importante: diz-se que, quando a consciência humana evoluiu por conta do aprisionamento espiritual, o TERCEIRO OLHO que captava os Arquétipos se fechou definitivamente: assim, o antigo planeta eixo de simetria foi pulverizado e transformado numa miríade de asteróides (como o Vultus Spiritus foi disperso no pólo infinito). 

Porém, o modelo dos ingleses tem duas deficiências: Não consideramos a Terra como uma força astrológica per se; o Sol não foi contemplado no esquema.

                Se tomarmos o sistema solar inteiro como um modelo homólogo da Psique, o Cinturão Psi corresponderia ao Umbral de Consciência Psi através dos quais os pensamentos emergem, e no nível galáctico o Sistema Solar passa de um nível grosseiro de matéria para outro mais sutil.



                Como na escala musical, entramos em outra oitava, e as mesmas forças primordiais se manifestam em outro nível fractal de consciência, ou seja, existe uma homologia fractal que faz com que os seguintes pares de forças sejam espelhos um do outro em níveis diferentes:

                 Nível Infra-Ψ
Nível Extra-Ψ
Sol
Plutão
Lua
Netuno
Mercúrio
Urano
Vênus
Saturno
Marte
Júpiter

                 Assim, Netuno é uma oitava superior da Lua, ou seja, é a mesma força agindo no âmbito da Esfera de Luz da consciência, e assim por diante, com todos os cinco pares acima. Apenas para ninguém estranhar o fato de a Lua estar mais próxima do Sol do que Mercúrio, lembremos que estamos trabalhando com o conceito aristotélico de Esferas planetárias, diferente da ordem física: o Sol e a Lua são as forças mais próximas da Terra (o self e a esfera de pré-consciência são comuns à maioria dos seres vivos), e daí sim as forças se expandem na direção de sua distância solar (os seres conforme evoluem vão ganhando variáveis mais sofisticadas na psique)...


                Essa reorganização faz o Sol parear com Plutão, o que torna o planeta de Hades como o Sol de uma consciência superior, talvez o próprio Sol Negro dos antigos Árias, pois enquanto o Sol aglutina em si as experiências vividas pela Psique e forma um Ego consciente, Plutão propicia a experiência da Morte, o desvincular dos entes não-essenciais que força a consciência humana a reorganizar seu senso de “eu” em torno de si mesma, e não de entes externos cuja relação egóico-afetiva pode ser cortada. O Sol solidifica as experiências, e Plutão opera para cortar o supérfluo e lapidar o Ego até a individuação pura, sendo cabível uma concepção de um Sol Transcendente ou um Sol Negro.

Neste capítulo dos Simpsons, um exemplo visual de como um mesmo ente, Homer Simpson, tem duas manifestações distintas em dois planos de significação - os mundos 2d e 3d - sendo essencialmente o mesmo e ao mesmo tempo diferente:



                 Apenas como curiosidade, após Plutão existe um outro cinturão, o de Oort, cujos planetas foram formados por forças mais antigas que o Sol que não existem mais nessa galáxia. Vesta e Sedna estão lá, possivelmente como oitavas superiores de Júpiter e Saturno, exercendo homologia funcional com forças psíquicas além das humanas, afetando formas superiores de consciência ou talvez as próprias almas desencarnadas no plano astral! De qualquer forma, dificilmente dizem respeito à maioria da humanidade, assim como um platelminto não seria afetado por forças de uma consciência sofisticada como Júpiter ou Urano.

                De todas as formas, eu não poderia prosseguir de Marte a Júpiter sem transpor o Umbral de Consciência, que separa as forças semiconscientes, pré-humanas, das forças conscientes propriamente humanas! Se até o momento todas as forças foram de aglutinação e organização de experiências, pois orbitam em torno do Sol Vermelho que é o Self aglutinador de experiências, os planetas Extra-Psi serão forças de rompimento e de refinamento, forças que lapidam tudo o que foi acumulado pelas forças psíquicas Infra-Psi: fazem desta forma, pois sua influência é do Sol Negro, Plutão, que traz a Morte ao superficial e deixa apenas o essencial a ser descoberto.

                Sob este ponto de vista, seguirão os próximos artigos! Conforme deixamos explícitas nossas forças internas mais primordiais, começamos a lidar com influências mais elaboradas, sutis, menos óbvias e cada vez mais insidiosas, até o limite mais fino e tênue do que somos capazes de compreender... mas nada nos garante, e inclusive existem todas as evidências ao contrário, de que somos sutilmente levados por forças de tão lento acúmulo e tal grau de sutileza que mal conseguiremos distingui-las: por ora, basta termos a consciência que o 'nosce te ipsum' é um exercício interminável, pois as mesmas forças arquetípicas se espelham, ad infinitum, em distintos planos de significação e contexto que vão do puramente animal ao puramente Espírito - e todas as nuances intermediárias!

As above, so below...


Ennoia, Isaria,
Aus der Lichte der Mond
Aus der Dunkel der Nacht
Nahst du dich in deiner Macht



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