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"[...] cá entre nós, isto é uma parábola: um bom astrônomo saberá ler nas estrelas sinais e símiles que nos permitem silenciar muitas coisas." (F.W. Nietzsche)

domingo, 31 de julho de 2011

O que é Astrologia?

O que é Astrologia?

Ou: como os Astros não determinam nada na sua vida

“Afirmou que os papéis de seu antepassado continham notáveis segredos do saber científico de tempos primevos, a maior parte em código [...] e no entanto, não tinham qualquer importância, salvo se relacionadas a um corpo de conhecimentos hoje totalmente ultrapassado;

de forma que sua apresentação imediata a um mundo equipado unicamente com a ciência moderna lhes tiraria toda a força e significado dramático e explicativo.” (H.P.Lovecraft, ‘O Caso de Charles Dexter Ward’)


Diferentes pessoas virão procurar uma página ou um livro de Astrologia por diversas razões.

Alguns talvez por curiosidade, meio distanciada (afinal de contas, é apenas uma superstição, não é? Superstições nunca se assumem – mas nunca se descartam), alguns por gosto por coisas “místicas em geral”... quem sabe, procura-se uma resposta para um problema, ou queira-se precaver contra algo, então! Sem contar os veteranos do meio, e Astrólogos profissionais passeando por sites do mesmo métier.

Seja como for, a quase totalidade das pessoas procura se informar sobre assuntos astrológicos baseadas em pelo menos uma de duas premissas:

1) Os Astros determinam sua personalidade; e

2) O movimento dos Astros tem ligação com fatos da sua vida cotidiana

Invariavelmente, frustrarei esta maioria, pois estas visões não somente estão distorcidas, mas obstruem a compreensão real do que é, de fato, a Astrologia.

O pensar antigo: blocos fundamentais da ciência Astrológica



De pouco ou nada adianta pensar com uma mente moderna sobre um ramo do conhecimento que se construiu com idéias, e com uma forma de pensar, que a ciência moderna não compreende mais.

Essa pré-explicação é meio longa, mas creio valer a pena!

Quando a Física e a Matemática se desenvolveram de forma rápida e certeira, ganhando precisão na previsão de fenômenos, o pensamento científico escolheu se dedicar exclusivamente à tarefa de prever, por indução a partir de uma teoria confirmada e testada, relações causais: um impacto causa a aceleração de um corpo, o aquecimento da temperatura média do mar causa desequilíbrios nos ecossistemas de corais, o movimento de rotação da Terra causa a formação de ciclones e anticiclones nas massas de ar atmosféricas.

O cientista antigo (porque não podemos deixar de pensar nos antigos filósofos e sacerdotes, até os mais remotos xamãs, como cientistas, geralmente guiados por uma paixão pelos fenômenos do mundo e incumbidos por suas sociedades de explicá-los satisfatoriamente) pensava de uma maneira distinta. Possuía-se muito do pensar da ciência moderna, e um algo mais que se perdeu no meio do caminho.

O fato básico assumido pela ciência antiga é que o mundo se organiza, fenômeno por fenômeno, coisa por coisa, num padrão matemático determinável, e que os fenômenos se organizam, dentro de si e entre si, de forma fractal.

Um fractal é uma “imagem”, digamos, que não importa o quanto se dê “zoom” pra menos ou pra mais, a imagem continuará a mesma.


Esse fractal extremamente simples consiste num galho se subdividindo em dois, em todos os níveis. Qualquer galho que se olhe, e a imagem será a mesma da original: um galho se dividindo em dois.

Um fractal é sempre determinado por um padrão repetido infinitamente em qualquer nível de detalhe, um padrão rígido e matemático, “programável” – por exemplo, esse fractal acima se gera num compilador qualquer com o código a seguir:



(define (fractal phase r w n k)

(if (> n 0)

(let* ((theta (* phase pi/3))

(x (* r (cos theta)))

(y (* r (sin theta)))

(r (* r k)))

(set-line-width w

(overlay (segment (vec x y))

(at x y (fractal (phase+1 phase)

r (* w k) (- n 1) k))

(at x y (fractal (phase-1 phase)

r (* w k) (- n 1) k)))))

null-box))

(define (make-fractal r w n)

(let* ((k 0.618)

(box (overlay (fractal 0 r w n k)

(fractal 2 r w n k)

(fractal 4 r w n k))))

(draw-to-file-for-png "fractal" box)))

(define pi (acos -1))

(define pi/3 (/ pi 3))

(define (phase+1 phase) (if (= phase 5) 0 (+ phase 1)))

(define (phase-1 phase) (if (= phase 0) 5 (- phase 1)))

(make-fractal (* points-per-inch 1.5) 2 9)

- Fonte: http://mumble.net/~jar/visuals/fractal.html


Ao longo da Antiguidade, as “mentes mais sensíveis do povo” (usando uma expressão do etnólogo Joseph Campbell) sabiam que tudo no Universo é um programa, um pedaço de código decifrável, e mais ainda, pouco original – podem-se identificar a partir de uns poucos padrões de fractais (essa foi a origem das cabalas, dos alfabetos mágicos – a busca por esses ‘códigos’ de fractais que fazem o software da existência rodar).

Então, além do ciclo

Observação dos fenômenos – indução de teorias (causais) e equações – dedução de casos particulares (forecasting),

havia o ciclo

Observação de padrões dentro dos fenômenos – indução de padrões arquetípicos – cruzamentos e comparações – inferência de verossimilhanças,

que hoje não se compreende mais: na realidade, quando se pensa, com nossa mente moderna, por exemplo na explicação dada na mitologia nórdica de que antes do mundo havia uma dimensão de fogo ao extremo sul do espaço (Muspellheim) e uma de gelo ao extremo norte (Niflheim), com o ‘vácuo fértil’ (Ginnunga-gap) ao meio, pensamos estupidamente: superstição interessante... assumimos que eles acreditavam de fato que um choque de fogo e gelo criou a matéria, ou que isso seria uma simples linguagem figurativa. Não se pensa nesse Genesis nórdico como uma explicação de um padrão da Física que se repete em todos os fenômenos: um diferencial de energia potencial entre dois pontos como o fato gerador do fenômeno em si (células de convecção, correntes elétricas, sinapses, ligações químicas, o que for). Se um diferencial de energia potencial “inicia” ou gera o fenômeno, o deslocamento, então a mesma dinâmica deve estar envolvida na criação do Todo, por analogia fractal: o que é verdade em um nível onde se tenha certo arquétipo subjacente, será

verdade em todos os níveis que tenham o MESMO arquétipo subjacente.

Que diabos a Astrologia tem com esse blábláblá?

Os Astrólogos se apoiaram firmemente neste procedimento, que é apropriado para casos onde identificar um padrão é mais importante do que obter uma precisão matemática.

A base de observações da Astrologia é o conjunto dos Astros (hm... óbvio), porém o que se observa e infere é muito diferente do que o senso comum assume. Um manual alemão do início do século 20 dava, por exemplo, uma explicação muito inteligente e racional, dizendo que a radiação solar que cada Planeta refletia e incidia sobre a Terra impactava era absorvida do ar pela primeira respiração do recém-nascido, impactando suas células e, portanto, sua forma futura de ser.

Do ponto da Astrologia original, defender uma posição desta é bem arriscado.

Afinal de contas, o planeta não influencia a pessoa em absolutamente nada. Porém, o funcionamento, a dinâmica, as propriedades e o trânsito daquele ente celeste possuem semelhanças arquetípicas com o funcionamento, a dinâmica, as propriedades e padrões de conexões da psique humana. Somos partes de um grande fractal, um grande código universal, e como vimos o que se observa em um ‘zoom’ se observa em infinitos outros: a órbita dos elétrons se assemelha à órbita dos planetas, e os trânsitos celestes possuem propriedades observadas que se assemelham à dinâmica inerente de certos processos mentais. Usando uma linguagem esotérica, sicut in caelum quod est in Terrae: assim no céu como na Terra – nada de novo sob o Sol.

Algumas coisas precisam ser consideradas aqui.

Primeiro, considere-se que não era tido em conta o Planeta Mercúrio, suponhamos, mas a Esfera de Mercúrio.

Esfera?

Na Física Aristotélica, os céus eram divididos em duas regiões: a infra-lunar ou Universo propriamente material (tendo a terra como centro de referência, o Sol e a Lua em “camadas” ou esferas acima da terra, e a supra-lunar ou Universo etéreo, supra-material, contendo o restante dos Astros que são menos pensados como planetas e mais como esferas de influência, considerando suas órbitas e propriedades (vide figura abaixo). Assumia-se que os astros em si percorriam os céus não por seu próprio movimento, mas porque estavam fixados em “esferas cristalinas” concêntricas à terra que giravam em torno de seu eixo, arrastando os astros consigo. Na verdade, isto é uma forma arcaica de dizer que as órbitas dos planetas, observadas de um ponto na terra, eram fixas de revolução em revolução.

Os cientistas antigos se preocuparam primeiro em fazer uma observação detalhada das órbitas dos astros, e então em observar padrões em seus movimentos e propriedades; notou-se a partir de certo ponto que havia uma semelhança marcante entre as propriedades dinâmicas gerais de uma Esfera (campo orbital) astral e uma Esfera psíquica (campo mental de influência) que passou a ser então correspondente à primeira.

Nota-se como nenhum astro tem influência direta sobre a personalidade ou a vida de ninguém, mas pode ser usado para inferências por ter padrões em alta verossimilhança com algum “departamento” da nossa psique, ou melhor dizendo, obedecem a um mesmo funcionamento arquetipicamente determinado. Este é o formato do “tijolo” com o qual se construiu, e se deve interpretar e entender, o pensamento astrológico.

Eu IA desenvolver um segmento inteiro comentando sobre a provável dúvida levantada pelo fato da física Aristotélica ter sido “detonada” pelo primeiro grande Mythbuster da História, Galileu. No lugar disso farei apenas duas provocações:

1) Leia-se Feyerabend... a Ciência é exata e correta apenas se se tomam seus axiomas, seus “vamos assumir que... ... ... seja verdadeiro”, como verdades; a aceitação de um certo pensamento científico não invalida as outras ciências ou propostas rivais, apenas a torna mais aceita socialmente por conveniência explicativa ou qualquer outra razão gregária ou de escopo explicativo. Dentro de seu contexto e escopo, todo programa científico é verdadeiro.

2) Assumindo que a validação de uma ciência está relacionada não apenas a seu poder explicativo, mas seu escopo e a conveniência ou funcionalidade de seus axiomas, não se pode supor que ganhamos muito com a ciência moderna em termos de forecasting e matematização (Lakatos por exemplo é radical na sua utilização da Física como parâmetro absoluto de todas as ciências) tanto quanto perdemos por nossa obsessão com as relações causais e temporais? Existem fenômenos atemporais, não-causais e sincrônicos, apenas deixamos de perceber isto quando deixamos de perceber os Arquétipos em interação na geratriz fractal dos fenômenos do universo.

Então, com isso a conclusão que quero produzir é que a Astrologia tem sido ridicularizada como ‘pré-ciência’ ou ‘superstição’ porque não se compreende de que forma, e de onde, ela tira suas afirmações. Na verdade, mais do que uma ciência, a Astrologia é uma semiótica, senão uma linguagem em si, como a Matemática: delinearei essa teoria a seguir.

A Astrologia como linguagem arquetípica

Pergunta-se: Qual o tesão de aprender uma ciência que “não explica nada”? Não é uma futilidade falar sobre a influência de Saturno no mapa se sabemos que o astro, Saturno, não age em absolutamente nada?

Na verdade, esta notícia não deve ser vista como desanimadora, afinal, Paracelsus já refutava que os Astros tivessem quaisquer influências na humanidade per se e, no entanto, nenhum alquimista (a variante mais antiga de psicólogo que existe) deixou de usar a Astrologia para seus fins semióticos. Aqui entra o uso da Astrologia, como se deve vê-la e usá-la.

A Astrologia, pela precisão e mecanicismo de suas analogias, é na realidade uma LINGUAGEM. Assim como a álgebra foi desenvolvida como uma linguagem humana para expressar idéias quantitativas (tentem descrever qualquer equação complexa ou matriz só com palavras!), a Astrologia em si é uma linguagem perfeitamente desenhada para expressar idéias relativas à psique e suas esferas de Luz e Sombra.

Na verdade, a força explicativa da Astrologia como um sistema lingüístico e simbólico para a Psique provém de alguns fatores:

1) Através do pano de fundo dos Astros, a Astrologia conseguiu condensar as principais forças primárias que, combinadas de infinitas maneiras, criam os diferentes padrões de julgamento, aprendizagem e sentimento. Fazendo uma analogia com a fórmula alquímica solve et coagula (dissolver e coagular), toda a parafernália da atividade mental humana foi decomposta e as forças principais foram identificadas; arrisco aqui chamar estas forças de Arquétipos.

2) Passo seguinte (simultâneo, na realidade), a Astrologia que no início da humanidade buscava entender acontecimentos externos à mente conseguiu estabelecer paralelos FUNCIONAIS, identificando Arquétipos subjacentes tanto ao funcionamento de uma Esfera astral quanto ao de uma determinada esfera psíquica, gerando um sistema não só de descrição, mas de explicação dinâmica do funcionamento da mente.

Nisto reside a grande força do pensamento astrológico, uma vez que ele seja devidamente entendido: não como um sistema que descreve relações causais entre os astros e a nossa vida, mas como um sistema que descobriu e passou a operar em cima das semelhanças arquetípicas entre as esferas celestes (como compreendidas pelos Aristotélicos) e os processos básicos que, assentados em premissas irredutíveis da esfera de sombra, organizam e constroem e interligam nossas redes de idéias e pensamentos.

Assim, por exemplo, o Sol, que é a fonte de energia dos processos biológicos, meteorológicos e gravitacionais do sistema solar, é arquetipicamente semelhante àquele núcleo da consciência que denominamos Ego, em torno do qual todas as conexões de sentido se criam e orbitam, de onde retiram energia e seu sentido referencial particular. Mercúrio, sempre próximo do Sol, representa os processos cognitivos, que é o primeiro desenvolvimento da mente após a definição de um ego, e após este, a base estrutural de todas as conexões de sentido. E por aí segue...

Se eu digo, por exemplo, que tenho Mercúrio em quadratura com Marte, a Razão e a Vontade se obstruindo mutuamente, estou descrevendo sinteticamente um indivíduo tenso, nervoso, que tende à neurose e ao pessimismo, possui dores de cabeça freqüentes, pensa em excesso antes de agir e, em geral, não consegue se decidir por um curso de ação, gastando energia mental esgotando todas as alternativas. Poupamos a descrição psicológica do tipo sintetizando estas características em seus termos Astrológicos. Assim como denotamos a razão de x está para y assim como 2 está para 3 com a notação 2/3.

E isso funciona?

Sim.

O mapa natal de uma pessoa, por exemplo, diz respeito à forma como suas conexões de sentido psicológicas são construídas, à forma de pensar... é perfeitamente válido questionar o porquê disto funcionar. E na verdade, a resposta não é simples: usando uma analogia, assim como os genes estão contidos no sêmen, e toda a informação necessária para o desenvolvimento de um fungo, em seus esporos minúsculos, o mapa astrológico que de fato ‘delineia’ a psique de um indivíduo é seu mapa natal, pois é o momento em que o indivíduo vem ao mundo como um ente particular é que ele inicia o processo de desenvolvimento de si mesmo, começa a desenrolar o pano de seus processos entelequiais, e é neste marco zero que se define a forma como o Ego veio ao mundo, e de que maneiras este Ego ligará, em torno de si, toda a cadeia de entes e conceitos e julgamentos e sentimentos e deduções.

E é por isso que, até hoje, se dá uma importância exacerbada à questão ‘qual é o seu signo’ – nosso signo é habitualmente o signo solar, a posição do Sol no Zodíaco, o que um Astrólogo experiente saber ser uma informação apenas entre várias que se podem extrair de um mapa astral. Mas tudo isso é assunto para o próximo artigo.

Próximos passos

Depois de tanta provocação, e de uma introdução (assumo) complexa – me desculpe, pessoal, para ficar bem explicado não pude escrever menos do que isso - tentarei delinear os principais astros nos próximos artigos, e somente depois disto, os signos zodiacais – junto com todos os comos e porquês do sistema zodiacal, e das 12 casas.

Então, quando tiver delineados os pontos básicos da Astrologia, que precisam ser conhecidos por qualquer um que leia, me dedicarei ao propósito original desse Blog – as minhas pesquisas sobre os astros, e as forças trans-saturninas, que são o grande divisor de águas entre a Astrologia tradicional e a moderna: farei um ataque à astrologia moderna para depois me posicionar definitivamente em sua defesa!

Espero que tenham gostado deste primeiro artigo, prometo que os seguintes serão mais simples e interessantes, e aguardo comentários!

QUE JÚPITER SORRIA A TODOS!

Bruno Laget




Ennoia, Isaria,
Aus der Lichte der Mond
Aus der Dunkel der Nacht
Nahst du dich in deiner Macht