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"[...] cá entre nós, isto é uma parábola: um bom astrônomo saberá ler nas estrelas sinais e símiles que nos permitem silenciar muitas coisas." (F.W. Nietzsche)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Júpiter Astrológico

Júpiter Astrológico



“Uma peregrinação física é uma encenação de uma jornada interior, que é a interpolação de signos e conteúdos da jornada exterior. Pode-se ter uma sem a outra – mas o melhor é ter ambas.”
                - Pe. Thomas Merton


                "Sê gracioso, ó filho onisciente de Kronos, o mais excelente e grandioso!", como dizem os hinos homéricos!

                Júpiter, do proto-indo-ariano Dyans Pitar, “Deus Pai”, ocupa certamente entre os astros do céu um papel paternal. A maior massa e diâmetro de todos os corpos exceto o Sol, já foi proposto que a imensa massa do planeta e seu campo gravitacional poderoso protegem os planetas mais internos de um bombardeamento mais intenso de asteróides; à parte disso, tudo em Júpiter impõe respeito: o planeta possui o maior número de luas, 64 ( oito vezes oito), sendo um real “pai de família” ou um mini-sistema-solar dentro do sistema que encerra o nosso Sol, e sendo também um corpo que irradia energia mais do que recebe, uma luz própria.

                O que é certo é que o Jupiter, ou Jove, Greco-Romano não tem absolutamente nada a ver com Jehova, ‘Deo Pater Omnipotens’ dos cristãos, judeus e maometanos. À parte o caráter paternal, patriarcal e centralizador de ambas as personalidades, passo a apontar aqui as diferenças cruciais – Jehova será melhor estudado quando falarmos de Kronos-Saturno.

                O símbolo de Júpiter é o resumo arquetípico de seu caráter: o crescente da personalidade (Ego) elevado por sobre a cruz da Matéria. Júpiter, também chamado de Fortuna Major pelos alquimistas antigos e de “Grande Benéfico” pelos astrólogos modernos, tem significados e atribuições aparentemente numerosos: rege os ideais, filosofia, religião, convicções, e ao mesmo tempo a moral, a boa sorte e campos para onde podemos nos expandir com sucesso. Jupiter também é carregado com um significado de jovialidade (de Jove, Júpiter), de alegria e otimismo, ganhando quase o caráter de um Buda bonachão – daí que uma má aspectação num mapa signifique otimismo desenfreado, languidez, preguiça, confiança injustificada.

Toda essa parafernália de significados será aqui reduzida a seus significados essenciais.

Quando o crescente – a personalidade, o acúmulo de experiências – se sobrepõe à cruz da Matéria, é porque as experiências se cristalizaram em verdades adquiridas, e estas foram elevadas ao status de ideal, de crença. A posição de Júpiter num mapa astral indica, primeiro de tudo, as circunstâncias e a forma com que as experiências isoladas são sintetizadas, via indução de uma série de particulares ao geral, em leis, normas, dogmas, crenças e verdades internas. É a força sintética de indução, por um lado, e uma força que compila essas “lições” em uma visão ideológica completa: uma visão transcendente, que guia as escolhas e harmoniza ao redor de si as forças da consciência.

Zeus foi o vencedor de Kronos, o vencedor do tempo e das limitações e medos, e dos Titãs, as forças primevas da natureza, banindo o irracional para a Esfera de Sombra (Tártaro) e capitalizando as forças restantes em torno da visão eidética que incorpora. Neste vídeo do jogo God of War II temos Júpiter usando seu poder do Raio (o Raio de Indra, a palavra de ordem da consciência que despedaça o pensamento indesejado) para derrotar e aprisionar os primitivos Titãs e tomar para si o Olimpo:



O primeiro signo regido por Júpiter é Sagittarius, chamado O Arqueiro, mas na verdade diz respeito a Chiron, um centauro imortal ferido acidentalmente por Hércules, com uma flecha embebida no sangue de Hydra. Incapaz de morrer e vivendo em eterna agonia por conta do veneno, Chiron se dedicou a ensinar e curar os demais, com a esperança de encontrar o remédio para o próprio veneno. Entendemos a regência de Júpiter aqui, pois Jupiter rege tudo relacionado a ideais, filosofias, o ensino (transmissão de leis e dogmas).

Enquanto Marte é uma força plástica do subconsciente, de natureza volitiva, capaz de moldar o hábito e de sobrepujar o medo e o automatismo das reações, Júpiter é a força plástica, moldadora, de caráter dogmático, da consciência, pois julga e direciona as nossas ações de acordo com a filosofia e os ideais que adquirimos. Fornece um senso transcendental de ideal (a missão de Chiron) e “representa, no geral, a mente superior, o erguer os olhos para além de si (a flecha do Arqueiro) com visões de verdade, ideal, compreensão, sabedoria e aspiração” (Carl Wöbcke).

Pode parecer aqui que estamos falando de um processo intelectivo, portanto pertencente a Mercúrio. Porém, como explicado no artigo anterior, estamos agora falando da Esfera de Consciência, o reino dos pensamentos intencionais e bem lembrados: aqui, as fronteiras entre racional, emotivo, instintivo, etc, etc, se rompem – pois o pensamento se formou lá atrás, na Esfera de Sombra ou subconsciência, e simplesmente foi tornado consciente. Mercúrio simplesmente armazena e interliga conteúdos mentais, mas é Júpiter que transforma em Sabedoria o apreendido.

Dito isto, Júpiter pode ser apreendido como “instinto da consciência”, ou grilo falante, que se põe como pai e regente das outras forças mentais, que ele tenta orquestrar e harmonizar – de seus dois grandes jarros, Zeus/Jove/Jupiter dispensa o bem e o mal e governa o Olimpo; de fato, constantemente nós nos olhamos, às nossas ações e pensamentos, sob uma lente moral ou ideal e pesamos a nós mesmos de acordo com este ideal de ser. Daí o pai e educador sábio como ícone da Esfera de Júpiter.

Mais do que isto, Júpiter governa a expansão da consciência – sabedoria e ideais não se acumulam de forma passiva, mas num processo constante de busca, e a Esfera de Júpiter possui o caráter do Arcano Eremita ou Buscador do tarot, o pregador itinerante, cruzado, mestre e sacerdote que peregrina em busca de algo maior do que si: a própria pulsão da busca espiritual que Vênus, Fortuna Minor, inspira, mas é Júpiter, Fortuna Major, quem instiga e provoca.

Esse espírito aventureiro é marcante em Sagitário, e tanto este signo quanto a Esfera de Jupiter possuem esse perfil “Indiana Jones” e o gosto pelo exótico, pelo estrangeiro, pelas atividades esportivas e viagens: pois toda pulsão consciente de busca traz consigo um desejo instintivo de incorporar a si o diferente, de querer degustar e digerir o mundo. Não como um mero viajante bon vivant, ao estilo libriano, mas com um profundo significado de completude espiritual e apaziguamento da consciência: nos céus, a flecha de Sagitário aponta ameaçadora na direção do Escorpião, a essência da perda e da morte transmutadora – toda busca e toda cruzada se realiza para evitar ou superar uma perda, uma morte íntima. Sagitário governa a nona casa do zodíaco conhecida como Iter, A Jornada.


Foi atribuída a Jupiter a capacidade de dar boa sorte, mas justamente por sua posição no mapa indicar o campo onde reside a busca espiritual consciente é que se toma isto por inspiração, desimpedimento do caminho e sorte: pois o próprio ato de perseguir essa busca é satisfação e felicidade para a consciência, e portanto uma visão mais alegre da vida e uma percepção maior de sorte.

Entretanto, nem sempre o buscador é extrovertido ou orientado para a ação. O lado noturno, introspectivo de Júpiter é Pisces, Peixes, dono da décima segunda casa do Zodíaco chamada Carcer, A Prisão, o lar de todos os grilhões e manifestações terríficas da Psique. O nome Peixes vem de Derceto, a primeira Sirene, cuja caverna submarina matava os homens de pavor quando eles viam toda a beleza dos seus sonhos íntimos apodrecida e decaída pela ação corrosiva da realidade.

O nativo de Peixes é guiado pela mesma pulsão de busca espiritual de Sagitário, porém mais alheio às coisas externas, sendo vítima dos defeitos de Jove: ingenuidade, excesso de confiança, otimismo injustificado; entretanto, se Sagitário resume o aspecto sábio e sacerdotal de Jove, Peixes resume o potencial de transformação interna e obtenção de poder próprio: quando o Deus que Enegrece os Céus estava para ser aprisionado e deposto por um golpe conjunto de Hades, Atena e Poseidon, que queriam dividir o mundo entre si, Zeus, que contava com o apoio da sereia Thetys (simbolizando Peixes), fez com que ela chamasse das profundezas do mar um ser terrível que os deuses chamavam Briareus, e os homens Egeu, que se sentou ao lado de Zeus com tal pavorosa demonstração de poder que todos os outros deuses encolheram de terror, frustrando o golpe. O lado introspectivo de Júpiter, como neste mito, é o poder e a sabedoria de trazer à tona e fazer trabalhar a seu serviço as forças e memórias mais terríveis e traumáticas da mente.

Por isto, Jove se assenta como pai e regente entre as outras forças psicológicas, pois encerra em si o próprio senso de propósito do indivíduo e seu instinto de busca transcedente. Se realizar na direção indicada por Júpiter no mapa é um passo importante para o equilíbrio e completude interior, segurança em si e satisfação do Ego – o fortalecimento necessário para outras buscas espirituais mais amplas e terríveis. No Hávamál, Wothan adverte que a pior morte é a do covarde, de velhice e inutilidade e consciência pesada, pois a felicidade e a plenitude de si mesmo só podem provir da jornada espiritual e filosófica de cada um, a cruzada particular que Jove nos inspira a tomar.



“Aonde este caminho há de me levar, ainda... este caminho é estúpido, vai em espirais, em círculos talvez, mas qualquer caminho a que ele conduza, eu percorrerei.” (Hermann Hesse)





Ennoia, Isaria,
Aus der Lichte der Mond
Aus der Dunkel der Nacht
Nahst du dich in deiner Macht

                 

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