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"[...] cá entre nós, isto é uma parábola: um bom astrônomo saberá ler nas estrelas sinais e símiles que nos permitem silenciar muitas coisas." (F.W. Nietzsche)

sábado, 30 de junho de 2012

Netuno Astrológico


Netuno Astrológico


Kilmeny look’d up with lovely Grace
But nae was a smile seen on Kilmeny’s face,
As still was her look and as still was her e’e
As the stillness that lay on the emerant Lea,
Or the mist that sleeps on a waveless Sea.”
(Mediaeval Baebes – Kilmeny)

                Não está claro se foi na noite de 23 de outubro de 1846 ou se na manhã seguinte, que Johann Gottfried Galle, astrônomo checando as previsões teóricas do francês Urbain LeVerrier, descobriu Netuno. LeVerrier previu matematicamente a posição do planeta a partir das perturbações de campo gravitacional que ele produzia em Urano.

                Mal Netuno entrou na superestrutura cultural humana, seu efeito se fez sentir: uma névoa se estendeu sobre as descobertas de Galle e LeVerrier, uma campanha de enganos, trapaças e confusões para confundir e desacreditar os cientistas foi levada a cabo pela comunidade científica inglesa, com o orgulho ferido pela conquista de um francês e um alemão.

                Netuno, sob o arranjo aristotélico das esferas planetárias, é a oitava superior da Lua, representando paradoxalmente o que seria o inconsciente e instintivo dentro da esfera de consciência – explicarei isso em detalhe. A astrologia convencional considera Netuno uma oitava superior de Vênus, porque a influência de ambos os astros torna a pessoa, na área afetada, poética, sonhadora e artística, porém por razões e mecanismos totalmente diversos! Vênus astrológica é a âncora e o cerco que sustentam o Ego, a consciência individual, e é refinada por Saturno, que lapida e solidifica o Ego através das lições negativas (notar que todas as oitavas respectivas guardam, uma em relação a outra, uma relação de transcedência, de conscientização,mas também de antagonismo!) – já Netuno opera na Esfera de Consciência de forma semelhante à Lua, servindo como um instinto consciente de olhar “para cima”, para o que há além, no melhor dos casos, e no pior dos casos como uma força lúdica de fantasia e auto-engano.

                Saturno introduziu a Dor da Consciência, do Espírito egóico eterno preso na estrutura anímica, e Urano, primeira esfera transcedental, opera para canalizar toda a tensão agônica alma-espírito para uma “missão maior” ou símbolo sagrado que fagocita e captura a Consciência para um fim coletivo. Entretanto, nem todas as estruturas psíquicas estão aptas a enfrentar tal choque violento – ao contrário do que o universalismo massificante e igualitário da ideologia moderna prega, diferentes humanos nascem com diferentes capacidades psíquicas (ou sêmicas, ou energéticas, dá no mesmo), além do perigo constante de enlouquecimento em diversas circunstâncias de crise psicológica que a vida nesse Samsara nos oferece. A Esfera de Netuno serve para frear e salvar a psique destas crises, da maneira que exporei.

                A ação normal, positiva, de Netuno, é a de conferir ao indivíduo o sexto sentido do Ajna Châkra, e abrir sua visão para a percepção de planos de significação mais oblíquos. É a esfera astrológica que os rsis, videntes, xamãs e profetas operam, e como a Lua representa o lado oculto e primevo da realidade física, Netuno abre para a Consciência a percepção do lado oculto e primevo do Plano Astral, para quem tem força volitiva o suficiente para nadar até o fundo das fossas abissais astrais nas costas do Deus do Mar.

                Devido a isto, diz-se que Netuno é forte em pessoas místicas, sensíveis, sonhadoras e algo frágeis e deslocadas da “normalidade”. Seu glifo, chamado popularmente de “tridente de Poseidon” (o que é uma ironia se o compararmos à Vruna Gibur), representa o crescente da personalidade voltado para o alto, para o “além”, perfurado pela cruz da Matéria e tentando se elevar para além dela.

                No entanto, Netuno e os netuninos são realmente como o oceano de gás hipergelado deste astro remoto, ou como a profundeza de nossos próprios oceanos – profundos, multíplices, obscuros e sumamente confusos. Com frequência aquilo que se acha nos abismos não é agradável ou tolerável... como Lovecraft disse brilhantemente, a maior misericórdia da mente humana é a incapacidade de correlacionar simultaneamente todos os seus conteúdos, algo que o indivíduo muito netunino chega perigosamente perto de cumprir com sua psique profunda e voltada “para o além”. E para evitar a crise e a loucura, o netunino se tornou um mestre do engano – não do engano eloquente e cheio de ardis do mercuriano, mas do auto-engano da fantasia, do jogo e do vício.

                Nos estudos da tipologia noológica, Moyano define o tipo psíquico Lúdico como o que não transita o Labirinto interior através de vivência, mas de simulacro: o lúdico cria uma imagem de si mesmo vivenciando o que deseja, para assim não correr o risco. Por exemplo, desejando ser um guerreiro, o lúdico se cercará de objetos culturais bélicos, se vestirá, portará e falará como um soldado, e conhecerá história militar em profundidade, mas sem jamais se arriscar numa luta real. Num nível mais profundo,o lúdico se crerá altamente espiritualizado pelo seu conhecimento de religião, ocultismo ou gnosis, porém não se arrisca em experiências gnósticas ‘na própria pele’, se limitando a adular a visão artificial de si mesmo autocriada como um iniciado ou um místico.

                Tal artifício é também uma especialidade de Netuno – que diante de uma verdade interior desagradável cria uma miríade de névoas e ilusões para espelhar ou mascarar aquela verdade crua, e especialmente mascarar a realidade de si mesmo (por isso, no glifo, o crescente da personalidade está trespassado pela cruz da matéria como um espinho oculto, jamais verdadeiramente arrancado). Netuno rege juntamente com Júpiter o signo de Peixes, o signo regente da décima segunda casa, Carcer, “a Prisão” do subconsciente e da consciência oculta.  O indivíduo lúdico, de todos os seres sencientes E conscientes (os seres tríplices, corpo, alma e Espírito), é o de menor força e escalão, justamente pelo fato de ser predominantemente confusão interna e simulacro; como exposto sinteticamente num poema romano,

Ó, uma Rosa, uma Rosa pintada
Não é o todo, não pode ser o todo,
Pois quem pinta uma flor
Não pinta sua alma fragrante
(Anon, “Suscipe Flos Florem”)

                Na tipificação popular, o pisciano é o indivíduo retraído, romântico, compassivo e sensível, sonhador e desajustado da realidade. Um site descreveu vivamente, “pode-se mergulhar na mente de um pisciano para encontrar apenas um turbilhão de águas confusas; mergulha-se mais fundo, para encontrar mais confusão; mergulha-se mais fundo ainda, e finalmente se encontra... mais confusão”. Do lado jupiteriano, Peixes é Briareus, o titã incomensuravelmente forte que se ergue do fundo do oceano ao comando de Thetys para defender Zeus com sua mera presença intimidante, e tal é o poder da consciência profunda controlada pela Vontade. Do lado Netunino, Peixes é Derceto: a donzela delicada e sonhadora que se auto-iludia a respeito do marido para não ver seu desprezo, e que quando encarou a realidade quis se suicidar lançando-se no mar; Poseidon a transformou numa Sirene do mar, uma Sereia, e quando Derceto seduzia um marinheiro para sua caverna submarina, o marinheiro se maravilhava com o cenário romântico e lindo da caverna num primeiro instante, mas no instante seguinte o véu da ilusão caía e Derceto mostrava o horror real da caverna, literalmente matando o indivíduo com o choque da desilusão e da realidade macabra subitamente confrontada (um choque tão forte que matava mesmo antes do afogamento).

                Essencialmente falando, a energia que flui e canaliza através da Esfera de Netuno vem da própria tensão polarizada de ilusão e desilusão, sendo ao mesmo tempo uma força de intuição e transcedentalidade, mas na falta de uma âncora mais firme para o Ego, na falta de uma Vontade sobrehumana, pode conduzir o indivíduo à postura lúdica, ou ao auto-aniquilamento pelo vício (álcool, drogas) ou pelo suicídio.

                Parece estranho dizer que, na tipologia noológica, o tipo lúdico, que está abaixo de todos, está numa esfera superior à do tipo sacralizante, como Netuno está além de Urano. Afinal, um Brâmane está acima de um Vaisha... sem contar o fato de que nesse fim de Kali Yuga os Vaishas basicamente se confundem com os Sudras e toda classe de Mlecchas, de Párias, existe um outro fator mal considerado... para enfrentar um símbolo interior e se render a ele em adoração, deixando a mente ser engolida pela “ideia sagrada”, é preciso menos Vontade egóica do que o indivíduo infeliz que nadou fundo demais e não suportou a realidade. Assim como é verdade que quanto maior o gigante maior a queda, é frequente que aqueles que apliquem uma Vontade egóica maior sofram uma queda mais atroz...

                A posição e as aspectações de Netuno no mapa astral mostram um contexto psicológico onde seja necessário o máximo de Vontade para mergulhar e elucidar; é um contexto através do qual uma grande criatividade pode brotar, e uma visão inicialmente bela e romantizada, como na ilusão de Derceto. Porém, uma vez confrontada a realidade de si mesmo e o choque passado que levou Netuno a criar a ilusão enevoada, se o símbolo for bem domado e superado gnóstica e psicologicamente, pode dar à consciência a força aterrorizante de Briareus para superar labirinto e Minotauro.

                Encerro e concluo com um pensamento tipicamente netunino de um H.P. Lovecraft, que possuía Netuno em Gêmeos e soube portanto racionalizar e escrever sobre essa esfera astrológica difusa como ninguém mais:

É uma infelicidade que a massa humana seja muito limitada na sua visão mental para pesar, com paciência e inteligência, aqueles fenômenos isolados, vistos e sentidos apenas por alguns mais sensíveis psicologicamente, os quais se situam fora da experiência comum. Homens de intelecto mais amplo sabem não haver distinção clara entre o real e o irreal; que todas as coisas aparecem como aparecem apenas devido a meios individuais físicos e mentais muito delicados, através dos quais tomamos consciência das coisas; mas o materialismo prosaico da maioria condena como loucura os instantes de sobre-visão que penetram o véu ordinário do empirismo óbvio.” (H.P. Lovecraft, “A Tumba”)




Ennoia, Isaria,
Aus der Lichte der Mond
Aus der Dunkel der Nacht
Nahst du dich in deiner Macht

sábado, 9 de junho de 2012

Urano e a Fronteira Tríplice de Labrelix


Urano e a Fronteira Tríplice de Labrelix



"- Vamos, disse eu; vamos amigos! Partamos! Finalmente a mitologia e o ideal místico estão superados. Nós estamos prestes a assistir ao nascimento do Centauro e logo veremos voar os primeiros Anjos! Será preciso sacudir as portas da vida para experimentar seus gozos e ferrolhos!... Partamos! Eis, sobre a terra, a primeiríssima aurora! Não há que iguale o resplendor da espada vermelha do sol que esgrima pela primeira vez nas nossas trevas milenares!"
 - Filippo Tommaso Marinetti, O Manifesto Futurista

Em 1783, o cientista russo Anders Lexell fez alguns cálculos a respeito de ζ-Tauri, um corpo celeste observado pelo astrônomo William Herschel (reputado como seu descobridor) em 1781, e antes dele pelo francês Pierre Lemonier em 1750. Os cálculos indicavam que o corpo tinha uma órbita... planetária.

                O fato reconhecido imediatamente de que se tratava de um planeta teve um efeito demolidor na cultura, que já sofria as demolições da Revolução Francesa e da economia de mercado – desde o remoto princípio das ciências arquetípicas, o modelo aceito do sistema solar incluía até Saturno, além do qual haveria apenas Éter. E não-tão-coincidentemente, o efeito da descoberta de Urano remonta à própria essência arquetípica dessa esfera.

                Ainda hoje, muitos astrólogos não assumem a existência das esferas de Urano, Netuno e Plutão, aos quais soma-se ainda o asteroide Chiron que será tratado no blog, e que tem importância grande nos mapas: os planetas “punk” (plutão, urano, netuno, “k”iron), usando a expressão de uma escritora inglesa, não tendo sido detalhados nos textos antigos, são simplesmente descartados na chamada “astrologia tradicional”.

                Eu defendo que a astrologia tradicional perdeu a tradição esotérica, que enxerga a realidade como um sistema de fractais e espelhos, nos quais os arquétipos se repetem com variações de significância e contexto, mas formando um quadro sempre coerente com qualquer outro nível fractal: que o sistema aristotélico clássico baste para cobrir as forças psíquicas essenciais – isso é uma verdade parcial – mas a existência de outros astros nos coloca para pensar: assim como o cinturão Ψ gera uma divisão especular que confronta as mesmas forças arquetípicas nas esferas de sombra e luz, e além de Plutão existem Sedna e outros astros que diriam apenas respeito a sentidos e planos mais complexos do que a mente humana (talvez a alma desencarnada, talvez seres mais complexos e de longa vida), os planetas e astros trans-saturninos tem um significado especial.

                De uma forma geral, os astros trans-saturninos possuem uma órbita muito mais longa do que o alcance da vida humana: a órbita de Urano, de 84 anos, coincide vagamente com a duração de uma vida humana na Terra, servindo assim como uma ponte entre as influências psíquicas microcósmicas e as forças anímicas astrais que retroagem na Psique. Essa posição de ponte entre a Psique encarnada e a influência transcedental da anima além das encarnações em algo justifica o planeta ter sido batizado Ouranos: o Deus da Origem castrado por Chronos, negado pelos olímpicos (Devas, Drotnar) como toda a estirpe primordial dos Titãs (Asuras, Jotnar), assim como as pessoas comuns tendem a negar o transcedental que possa desfazer a ilusão de sua segurança num mundo sólido e fixo.

                A jornada pelo âmbito da Consciência começou em Júpiter: a Vontade consciente como intencionalidade do pensar referido a um Eu que é um fio histórico, e prosseguiu por Saturno, o reconhecimento das limitações e medos do Eu. Reconhecer e delimitar – os dois círculos de fogo que giram pelos céus dos Asuras formam o Ego primário. A Psique é energia, mas o que gera energia é um diferencial de potencial (ddp), que os Nórdicos identificaram como Muspell e Niflheim, e a geratriz da energia da consciência é a tensão agônica entre Júpiter e Saturno.

                Digo da consciência, porque bem antes o Sol já funcionara como centro gravitacional para os construtos mentais, e sua tensão com a Lua gerou a energia psíquica subconsciente, expressa como esfera emotiva em Vênus, enquanto Mercúrio organizava a esfera racional e Marte, a vontade instintiva.

                Júpiter e Saturno entraram como princípios energéticos de uma esfera superior, de pré-consciência nos entes menos desenvolvidos e de plena consciência nos seres propriamente tríplices (corpo-alma-espírito). Diz-se que os entes pré-conscientes operavam em torno de uma cadeia Elix, o signo da Espiral na qual confluem todas as coisas sem vontade própria, e neste âmbito o sistema Sol-Lua é a própria força propulsora da evolução, enquanto os demais planetas até Marte possuem função estabilizadora, e Júpiter e Saturno possuem papéis secundários.

                A introdução de um Espírito egóico nos entes mais evoluídos tornou incerto o rumo Elix da evolução entelequial, e aqui estreia o conceito de Labrelix: a Vontade aplicada dos entes pode alterar o rumo de sua evolução. A cada emergência de um símbolo na mente, cria-se um dilema ético, que determinará um curso de ação. A consciência transita no Labirinto das milhares de escolhas e caminhos possíveis, impulsionadas pelo sistema Júpiter-Saturno (corredor α, “consciência do problema”), e neste trânsito eventualmente a consciência depara com o emergir de uma crise.

                Segundo Moyano, existem três caminhos possíveis (β,γ,δ), correspondentes às três atitudes éticas, e aos três astros trans-saturninos. Demonstrarei aqui que Urano corresponde à atitude ética sacralizante, e nos dois artigos seguintes definirei os papéis de Netuno e Plutão.


                Urano é a oitava superior de Mercúrio; é uma energia intelectual, sem dúvida, mas não na forma típica mercuriana de lógica e razão, mas antes uma intuição, uma epifania, uma resposta que se impõe à mente com toda a força do símbolo sagrado emergente. Urano rege o signo de Aquário, e como no mito aquariano de Ganymede, que numa epifania se rebela contra a servidão laboral e sexual nas mãos de Zeus, quando Urano opera sobre a mente causa sempre uma ruptura na ordem mental estabelecida, uma quebra ou a imposição de algo novo.

                Daí ser chamado de o astro “Despertador”. Racional e frio, mas súbito e intuitivo, quebra com facilidade a estrutura cultural anterior e possui o poder de alterar radicalmente o comportamento; o próprio signo de Aquário, como discutido antes, racionalista, progressista e científico, é movido por uma crise da consciência, que o leva a extremos de dedicação: ao saber, ou a alguma causa gregária, via de regra. O aquariano possui a noção mais nítida de todos do quanto o individual deve para o todo (em oposição especular ao comportamento leonino, seu oposto zodiacal, que possui o mesmo senso de “dívida”, mas sempre pensa em termos do quanto o todo já deve a ele) – e será um revolucionário, um voluntário, um cientista... qualquer coisa que apazigue sua consciência de utilidade frente ao todo.

                Este comportamento é típico da atitude ética sacralizante: frente ao sujeito em crise, um símbolo (ideia, ideal, ente, forma) se estabelece com plena força na psique e se torna um novo centro gravitacional em torno do qual o pensamento gira: o símbolo se torna assim “sagrado”, deus da psique e substituto do Ego puro. Basta ver a vida de santos, revolucionários e mártires para verificar o poder de um símbolo sagrado ao substituir o EU como centro referencial da mente, e criar uma consciência imposta de fora para dentro, uma “consciência universal” ditada pelas relações com o gregário.

O glifo de Urano, diz-se, é uma homenagem a Herschel (um “H”), mas possui um simbolismo por trás da alegação hipócrita: o círculo do Espírito subjugado pela Cruz da matéria, aberta à percepção e incorporação por ambos os lados (racional e emotivo): é o que Finley (2002) chamou de a “antena do espírito”, e indica a intuição súbita, multidimensional, epifânica que discutimos, e que como um sinal de rádio é “captada” desde fora do Eu e fornece à mente novos inputs. Esse glifo torna compreensível porque Urano é o primeiro dos planetas trans-saturninos e, portanto, a primeira opção de saída do tetrarque, pois tal receptividade transformadora é o resultado ideal que maximizaria o desígnio ontológico do Virya, e otimizaria sua performance nos objetivos micro e macrocósmicos da finalidade.

                Na Astrologia política, Urano rege as revoltas e revoluções; no plano pessoal, rege algumas transições importantes de personalidade: ao completar 25% de seu trânsito (entrando em quadratura com sua posição natal), o indivíduo está perto de seus 21 anos: é o início formal da fase adulta, do fim das revoltas e angústias da infância (Urano impedindo sua própria ação via quadratura). Quando completa meia volta, e se opõe à posição inicial, o indivíduo está com cerca de 42 anos e se dá a famosa crise de meia idade, quando a consciência se volta contra si mesma e todos os seus valores, e quer-se inclusive renegar as responsabilidades e consequências de escolhas anteriores. Com ¾ de volta, a segunda quadratura, tem-se a “segunda maioridade”, o indivíduo é oficialmente idoso e se aposenta.

                Analisar a posição de Urano no mapa ajuda a determinar para onde a mente se dirige durante as crises, e de onde podem vir respostas sedutoras que parecem salvadoras, mas trazem grande risco de fanatismo e confiança cega. Representa também a parte “universalizante” da consciência, que nos coloca como parte de um todo. Por outro lado, pois tudo possui ao menos um aspecto positivo e um negativo, o signo e a casa de Urano no mapa podem representar o âmbito e a natureza daquilo que nos faz quebrar todas as correntes do aceito, do preestabelecido, e estabelecer novas verdades para nós mesmos. É o martelo que destrói as partes da estrutura que estão comprometidas e não servem mais. Seu uso cauteloso, consciente, e guiado com pulso firme pela Vontade pode fornecer uma arma valiosa para a doutrina do übermensch pregada por Nietzsche, a tresvaloração de todos os valores.



"Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram.

 O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. O calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas. Na Rua Voluntários da Pátria parecia prestes a rebentar uma revolução, as grades dos esgotos estavam secas, o ar empoeirado. Um cego mascando chicles mergulhara o mundo em escura sofreguidão." (Clarice Lispector, 'Amor')




Ennoia, Isaria,
Aus der Lichte der Mond
Aus der Dunkel der Nacht
Nahst du dich in deiner Macht