A partir das décadas de 60 e 70, com o impulso e subsídio da cultura new age popular, a astrologia dos signos solares ficou bastante popularizada, e até hoje alimenta os “horóscopos” e “previsões para o seu signo” de jornais e revistas diversos. Quando perguntam qual é o seu signo (e a maioria de nós ao menos decorou, mesmo os menos interessados, o “nosso signo”), na verdade questionam o nosso signo solar: olhando de onde você nasceu descrevendo um arco imaginário por onde o Sol percorre (inclusive à noite, quando o arco prossegue por “debaixo dos nossos pés”) temos a roda das 12 casas zodiacais, sendo que esse aro, essa roda, sempre cruza as 12 principais constelações que são os famosos Signos.
O trânsito completo do Sol ao longo do zodíaco dura um ano terrestre, então os nossos meses delimitam a passagem do Sol em cada um desses signos. Na realidade nosso calendário é uma criação social e não considera exatamente esse trânsito: ao invés do dia 1, o Sol entra em um novo signo a cada dia 21 (os solstícios e equinócios ocorrem em dias 21).
Embora a Astrologia seja muito, muito mais do que apenas a descrição genérica do signo solar, muitas vezes acontece de serem justamente estas características que mais se sobressaem, ou adquirem maior visibilidade externa, no indivíduo. Isto tem uma razão.
A função do Sol, no sistema solar físico, é ordenadora em todas as instâncias: a sua força gravitacional gera e estabiliza a órbita dos planetas, sua energia radiativa é a fonte de calor e de energia potencial para inúmeros fenômenos físicos e biológicos na superfície dos planetas, do crescimento de uma planta aos tornados e às células de convecção atmosféricas e oceânicas.
Diz uma antiga laude egípcia a Aton, o Deus Sol:
Mas na aurora, enquanto te levantas sobre o horizonte, e brilhas, disco solar, ao longo da tua jornada, rompes as trevas emitindo teus raios... Se te levantas, vive-se; se te pões, morre-se. Tu és a duração da própria vida; vive-se de ti. Os olhos contemplam, sem cessar, tua perfeição, até o ocaso; todo o trabalho pára quanto te pões no Ocidente.Enquanto te levantas, fazes crescer todas as coisas para o rei, e a pressa apodera-se de todos desde que organizaste o universo[...]
No que todos os que observaram o poder do Sol em ação fazem coro, do mais antigo xamã siberiano ao geocientista contemporâneo.
No nível fractal da nossa psique, o Sol engloba todas as forças organizadoras da consciência. Tudo o que pensamos, apreendemos e relacionamos, o fazemos não de maneira neutra – o pensar a “coisa em si” simplesmente não acontece – mas pensamos, aprendemos, julgamos e relacionamos e sentimos em relação a um núcleo de consciência, o Ego, ou, para usar uma terminologia junguiana ou gnóstica, o Self: o núcleo irredutível da Consciência anímica de Si Mesmo.
O Sol é a força aglutinadora das nossas experiências e aprendizados que, numa colcha de retalhos, constitui aquilo que chamamos nosso “Ego”, “Eu”, nossa personalidade consciente e aparente ou, usando um termo caro a nós jungianos e moyanistas, o Self anímico. Olhando com atenção o glifo ou símbolo representativo do Sol astrológico (e alquímico), vemos um círculo, que é uma junção de infinitos pontos que eqüidistam de um centro: o Sol organiza todas as nossas experiências e aprendizados pontuais em relação a um centro egóico. Assim, por exemplo, se pensamos dois entes distintos, nossa mãe e uma xícara, na grande maioria de nós a mãe vai ter mais importância, porque tem uma conexão mais forte com o nosso Self do que uma xícara.
Por essa forma de operar, o Sol é a grande força ordenadora, que organiza todas as experiências isoladas, todas as forças mentais – o intelecto, as emoções, os ideais, os medos, as ilusões e epifanias – em um maquinário coerente, sendo mesmo justo dizer que o Sol anima todas as forças psíquicas, pois sem o Self estaríamos reduzidos às trevas da subconsciência! Um exemplo interessante (e nada esotérico) que eu uso para ilustrar esse modus operandi é uma animação soviética sobre um programa de expansão da rede elétrica. (Quem não tiver paciência assista ao menos o trecho entre 0:49 e 3:11 minutos).
Numa imitação algo grosseira do Deus-Sol eslavo Svarog, o jovem revolucionário e sua trupe musical atravessam o campo, que parece morto e sem vida, espalhando a Luz (das lâmpadas) – e o efeito, interessante, é o de organizar a vida e o movimento em meio à escuridão da noite: escolas e bibliotecas abertas ao público, fábricas de tratores, o antigo moinho de vento é substituído por um celeiro moderno e, enfim, todas as forças institucionais se organizam e desenvolvem mutuamente. Graças à nova energia, o vídeo mostra uma série de possibilidades abertas a cada vilarejo, e da mesma forma, a energia do Ego irradiada através de nosso Sol astrológico permite que as demais forças interajam e se desenvolvam, gravitando em torno de um centro de forma ordenada.
Ennoia, Isaria,
Aus der Lichte der Mond
Aus der Dunkel der Nacht
Nahst du dich in deiner Macht
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