A Roda do Samsara e os Lobos que Wothan
domou
"Nesta dimensão, o Rigor, que provém do Absoluto, não pode ser ausente: intrinsecamente, é a pureza adamantina do divino e do sagrado; extrinsecamente, é a limitação do perdão, devido à falta de receptividade de certas criaturas. O mundo é tecido com duas teias, rigor matemático e harmonia musical; ambas se unem numa homogeneidade superior que pertence à própria incomensurabilidade do Sagrado." (Frithjof Schuon, "Roots of the Human Condition")
PARTE I: AS RODAS CELESTIAIS
De seu
assento astral, Avalokiteshvara gira a roda do Zodíaco e afoga os
seres no Karma através do mecanismo infernal que opera; a 'grande
compassiva' chora ao afundar os seres sencientes em formas cada vez mais
sádicas de Karma, dolorosa mas firme na decisão de que somente um grande e
incessante sofrimento pode purgar os entes de seu pecado original: a
consciência em vias de despertar, como definida por Gurdjeff, Ouspensky e
Moyano: como uma força de dessincronização da Vontade Egóica com o plano
harmônico universal, de originalidade não-criada e
autodeterminação ôntica.
A Roda do Zodíaco,
Roda do Karma, Roda da Fortuna ou Roda do Samsara, que Nostradamus representou
como uma roda vazia para simbolizar o fim da existência, não é só uma analogia
simbólica ou "poética", nem só uma linha imaginária nos
céus. Explicarei como ela se configura, mas é importante notar o seguinte: ela
é e não é algo físico. Melhor dizendo, a Roda do Zodíaco pode ser vista nos
céus e dela deriva a Ciência Arquetípica que chamamos de Astrologia, mas como
tal ela é apenas um NÍVEL FRACTAL da Roda do Karma, uma réplica em nível macro
de um mesmo mecanismo harmônico que funciona em vários níveis da existência,
inclusive no nível psicológico.
Relembrando, a
própria definição original de uma Ciência Arquetípica é um estudo que vem
da percepção de que certas harmonias, como a Razão Dourada, se
repetem como fractais em diferentes níveis, contextos, planos ou
'zooms' da existência. A Roda do Zodíaco funciona com os mesmos períodos
harmônico-matemáticos do que as forças psíquicas que identificamos (de
forma sincronística, não causal) com os Astros, e daí derivam todas as
analogias.
Como consequência
disto, quando olhamos a movimentação nos céus, percebemos forças em jogo
que pervadem e determinam todos os níveis da existência, do micro ao macrocosmo
- é essa roda múltipla, onipresente e imanente na matéria,
que gira Binah, Avalokiteshvara, um dos Sephiroth (aspectos de
manifestação) de Kronos-Jehova-IAO, o Demiurgo criador da matéria.
A Roda do Zodíaco é
uma divisão do céu entre 12 partes iguais - estas são as CASAS, ou Bhavas, como
os hindus denominam. A primeira casa começa a leste, na direção do
horizonte, coincidindo com o Sol nascente, e estendendo-se 30 graus para baixo
do horizonte. De trinta em trinta graus, nessa direção, temos as casas
celestiais. Ainda não estamos falando dos chamados "signos", apenas
de uma divisão geométrica do horizonte, como na figura abaixo!
[Inserir fig 1]
Falando de uma
maneira bem simplória, costumamos dizer que na contextualização das forças
astrológicas, tais forças, os astros em si, são os atores de uma peça de
teatro; os signos são o personagem que o ator representa, e a casa celestial, o
cenário da peça.
As doze casas são, e representam:
Casa
|
Nome
|
Regente
|
Contexto
|
1
|
Domus
Vitae (a Casa da Vida ou do Ego)
|
Marte
|
Ego,
iniciativa, primeiras impressões, características superficiais.
|
2
|
Domus
Lucrum (a Casa dos Valores)
|
Vênus
|
Apegos,
pertences, propriedades. Aquilo que se cultiva e faz crescer. Materialidade.
Senso de utilidade e valor.
|
3
|
Domus
Fratres (a Casa dos Irmãos)
|
Mercúrio
|
Educação
formal, comunicação, inteligência. Conquistas.
|
4 |
Domus
Genitor (a Casa dos Genitores)
|
Lua
|
Raízes,
herança, o lar. A mãe, ou mantenedor(a) do lar. Fim de um ciclo.
|
5
|
Domus
Nati (a Casa dos Nascidos)
|
Sol
|
Lazer,
prazeres em geral. Amor e sexo. Filhos. Auto-expressão criativa.
|
6
|
Domus
Valetudo (a Casa da Saúde)
|
Mercúrio
|
Rotina e
deveres cotidianos. Habilidades e treinamentos adquiridos. Aquilo que se faz
para os outros. Saúde física.
|
7
|
Domus
Uxor (a Casa da Esposa)
|
Vênus
|
Relacionamentos
íntimos e de confiança. Casamento e parcerias. Diplomacia (aliados e
inimigos). Aquilo que nos atrai nos outros.
|
8
|
Domus
Mors (a Casa da Morte)
|
Marte/Plutão
|
Ciclo de
morte e reconstrução. Regeneração. Auto-transformação. Relacionamentos
profundos. Ocultismo.
|
9
|
Domus
Iter (a Casa da Jornada)
|
Júpiter
|
Aquilo
que é estrangeiro. Erudição. Religião, Lei e Ética. Conhecimento. Viagens.
Experiência adquirida ativamente.
|
10
|
Domus
Regnum (a Casa do Reino)
|
Saturno
|
Ambições.
Aquilo que motiva. Status, poder, autoridade. O pai ou o que sustenta o lar.
Reputação perante os outros.
|
11
|
Domus
Benefacta (a Casa Benfazeja)
|
Saturno/Urano
|
Amizades,
contatos, grupos, sociedades, círculos. Aqueles que pensam de forma parecida.
Desejos e esperanças.
|
12
|
Domus
Carcer (a Prisão)
|
Júpiter/Netuno
|
Aquilo
que é oculto, por baixo da superfície. Retiro, auto-reclusão, reflexão
profunda, medos, auto-sacrifício. A Esfera de Sombra. O desconhecido.
|
As casas são
preenchidas, nos mapas, pelos signos; logicamente, Áries se harmoniza com a
primeira casa, Touro com a segunda, etc, etc, mas nem sempre os signos estão em
ordem com as casas. Isto porque a roda que delimita os signos não se baseia no
horizonte e nos pontos cardinais, mas no ECLÍPTICO, que é a linha imaginária do
caminho que o Sol traça nos céus, visto do centro da terra. Os doze signos do
Zodíaco são doze constelações que cruzam o Eclíptico e, por sua imensa
distância, parecem estar fixas em relação à Terra.
Se os astros
correlacionam harmonicamente com as forças psíquicas da construção do
pensamento e as Casas correspondem ao plano de significação do pensamento, os
Signos determinarão o enfoque intelectivo, o viés arquetípico subjacente ao
pensar, ou seja, a ação da estrutura cultural habitual como linguagem de
significação do contexto.
Os signos
possuem sua casa própria e um astro regente, que é a força psicológica melhor
harmonizada com a linguagem habitual que o Signo significa. Mais do que isso,
os signos estão dispostos em seis pares opostos pelo vértice, o que tem um
significado especial:
Todo
Arquétipo, quando atualizado na matéria, é quebrado em um par de opostos cuja
síntese perfeita é o Arquétipo em si. Logo, os doze signos aos quais as pessoas
que gostam de Astrologia se ligam tanto, são na verdade seis forças
primordiais, espelhadas. Procederemos a elas, depois de uma contextualização
devida.
A advertência
tanto de Siddharta ou Gurdjeff quanto de Moyano foi a do mecanicismo da mente,
e da necessidade de cultivar a consciência. A busca desta consciência deve
iniciar-se pela obtenção de um equilíbrio vetorial perfeito entre as esferas
emotiva e racional da mente, sendo que existem seis forças que agem via nossa
estrutura cultural habitual (ou seja, nossa lógica, nossa forma de construir
ideias e pensamentos), as quais desequilibram nosso pensar, quer seja para o
excesso de racionalidade, quer para o excesso de emoção ou subconsciência.
Estes ímãs,
que a todo momento nos desviam do caminho reto da neutralidade, são chamados na
doutrina budista de Lokas, “Planos de Reencarnação” ou reinos aonde os seres
“reencarnam” sucessivas vezes dentro do Samsara (o Ciclo de Dor e Ignorância)
até que escapem dele. E os Lokas são em número de seis, assim como os pares de
signos do Zodíaco.
Reencarnação
aqui não é algo literal. Para os intérpretes mais sofisticados, os Lokas são
estados mentais nos quais a mente está submersa, quer seja por momentos, fases
ou mesmo uma vida inteira. Na parte III, apresentarei os signos em seus pares
arquetípicos, e como tal eixo sintético-supra-arquetípico corresponde a um
Loka.
Antes, porém,
cabe fazer um resumo compreensivo dos signos; ao longo dos artigos anteriores,
foi apresentado o MITO de cada signo, o que não se deve entender como uma mera
história: um mito é antes de tudo uma engrenagem, um fenômeno psíquico que,
dadas as mesmas condições, se reproduz no mesmo formato – como ciclones,
frentes frias ou explosões de supernovas.
PARTE II – O BHAVACHAKRA COMO EXPRESSÃO
FRACTAL DA KÂLACHAKRA
O Bardö
Thödhöl, o Livro dos Mortos tibetano, dá descrições minuciosas do processo de
“reencarnação”; controverso é tomar isto literalmente, pois é perfeitamente
possível interpretar a jornada fúnebre da alma como a “noite escura da alma” de
São João da Cruz, uma jornada psicológica por diversos estados transientes, que
numa sequência lógica são conduzentes ao aprisionamento espiritual ou, o que dá
no mesmo, à conformidade da alma ao plano entelequial Elix.
O Bhavachakra,
ou Roda das Casas, é o Horóscopo em si, e é uma analogia macrocósmica, em
escala gigantesca, dos mecanismos da espiral Kalachakra; os Bhavas são divisões
de 30 graus nos céus, e servem para determinar o contexto significativo do
astro/força psicológica, como na tabela acima; cda Bhava é regido por um Nidana
(“motivo de reencarnação”) ou Signo (potência interferente da modalidade
estrutural da estrutura cultural habitual). Vamos relembrar em sequência os
doze Nidanas e seus mitos geradores.
I NIDANA – ARIES, O VELOCINO DE OURO
O
primeiro Nidana, Aries, é a vontade inconsciente; na representação tibetana é
um homem cego, significando a passagem na alma da morte para um novo
nascimento.
O
primeiro dos signos possui uma energia agressiva, ativa, impulsiva, tirânica,
entusiasmada, dotada de um senso próprio de justiça.
Seu
mito grego é o velocino de ouro, atrás do qual Jasão e os argonautas saíram
através de diversas batalhas e dificuldades. O carneiro que o portava salvara
duas crianças gêmeas, uma menina e um menino, de serem sacrificados ritualmente
– permitindo simbolicamente, como Adão e Eva, Líf e Lifthransir, etc, um
recomeço e uma continuidade da existência humana.
II NIDANA –
TAURUS, O MINOTAURO
O
segundo Nidana, Taurus, é a conformação, o tomar uma forma e assumi-la; na
representação tibetana, é um oleiro, e seus potes significam que a alma molda o
formato de seus recipientes materiais.
O
segundo dos signos possui uma natureza obstinada, centrada, segura, sensual,
material.
Seu
mito é o do Minotauro, que pôde ser derrotado por Theseus graças ao fio de
Ariadne que o mantinha orientado no labirinto. O significado disto é que a
forma (Labirinto) desorienta e confunde, e que somente o isolamento espiritual
e a reorientação à parelha arquetípica (o novelo e Ariadne respectivamente)
podem anular o efeito do Labirinto e permitir o confronto com seu guardião. A
energia de Taurus é uma espada de dois gumes: propicia, por um lado, o
isolamento egóico, a separação do “eu” em relação ao “resto”, e por outro lado
propicia uma percepção materialista, pragmática, do assunto em mãos.
III NIDANA – GEMINI, OS GÊMEOS
O
terceiro Nidana, Gemini, é a vontade anímica consciente, o princípio mercuriano
do intelecto que é representado na arte tibetana como um macaco que salta sem
nunca se cansar.
O
terceiro dos signos é racional, intelectual, hiperativo, rápido, dinâmico e
incansável, porém superficial se comparado à sua contraparte no IX Nidana,
Saggitarius.
Seu
mito é o dos Dioscuri, Castor e Pollux, dois irmãos inseparáveis, porém Castor
era mortal, e Pollux era um semideus imortal. Os Dioscuri, juntos, sabiam
acalmar os mares, e com frequência salvaram a expedição de Jasão do naufrágio;
na Grécia, até hoje é um sinal de sorte para os marinheiros quando as estrelas
dos Dioscuri brilham no céu. O significado disto é que o poder da razão com
frequência reduz o risco psicológico de “navegar no desconhecido”, acalmando a
psique com definições e certezas racionais que, falsas ou verdadeiras, tornam a
jornada da vida mais “suave” e plana.
Quando Castor
morreu em batalha, Pollux se revoltou contra os deuses e se recusou a subir ao
Olimpo. Tocado pela lealdade dos irmãos, Zeus fez um arranjo onde eles poderiam
viver juntos se alternassem seus dias no Olimpo e no Hades. Isto simboliza as
duas operações da razão, indução e dedução, como construtoras da realidade
mental e sintetizadora de princípios opostos.
IV NIDANA – CANCER, O CARANGUEIJO
O quarto
Nidana, Cancer, é o ego incipiente da personalidade anímica, e é representado
por um homem num navio com esposa e animais.
A essência do
signo de Câncer são raízes, tradições, o lar, e tudo em que a alma se apoia
para definir a si mesma contextualmente.
Quando
Héracles lutava contra a Hydra de Lerna, Hera enviou um grande carangueijo leal
a ela para pinçar o calcanhar do herói e atrapalhá-lo. Cheio de dor, Héracles
esmagou o carangueijo com o pé; Hera, carinhosamente grata ao apoio de seu
débil mas corajoso súdito, elevou sua imagem aos céus como a constelação de
Câncer.
A lealdade
(tipicamente canceriana, aliás) do animal por Hera reflete os valores que a
própria Hera, como Saga entre os germanos, representa: lar, família e memória:
em uma palavra, as âncoras da alma.
V NIDANA – LEO, O LEÃO
O quinto
Nidana, Leo, é representado como uma casa vazia, significando o desenvolvimento
da expressão sensorial.
Um signo
régio, leal, corajoso, extrovertido, vaidoso e arrogante, representa o máximo
poder de expressão exterior dos conteúdos microcósmicos.
Seu mito é o
do Leão de Neméia, que Héracles teve de matar em sua primeira tarefa. Depois de
falhas todas as armas, ele estrangulou o leão. Matar algo com as mãos significa
honestidade, lidar com os problemas com os próprios recursos, sem ajuda
exterior. Depois de morto o leão, Héracles fez para si uma capa com o couro do
animal, ficando ele mesmo invulnerável a qualquer arma da época.
Simbolicamente, sendo Leão regido pelo Sol, a força astrológica que operar
neste signo será expressa e vibrada pela mente sem entraves, sendo protegida de
ataques externos devido à grande autoconfiança envolvida – mas sempre vulnerável
a crises geradas internamente, especialmente quando o ego anímico não é
suficientemente alimentado por corroborações externas.
VI NIDANA – VIRGO, A VESTAL
Representado
por uma imagem de casamento, o sexto Nidana é o focar progressivo da mente nos
objetos exteriores.
Um signo frio,
racional e analítico, paradoxalmente é introspectivo, sendo o ego mergulhado
numa ramificação excessiva de detalhes, classificações e racionalizações.
Ligado com o
mito do rapto de Perséfone e a busca de Demeter pela filha, o signo de Virgem
também tem conexões arquetípicas com gestações e fomentos de toda espécie,
assim como a saúde física: furiosa com o rapto, Demeter proibiu todas as
plantas da terra de gerar fruto até que o culpado se apresentasse –
representando o poder de Virgem de gerar os “frutos” de ações minuciosamente
planejadas, pensamentos metodicamente construídos e estratégias maquiavélicas –
numa palavra, tudo o que exige graus de detalhamento e repetição monótona
superiores ao que a mente costuma conseguir focar.Um significado mais antigo
para Virgem é a lareira dos lares, consagrada a Héstia, a guardiã do lar – não
a mãe carinhosa, mas a planejadora metódica da “casa”, que organiza a rotina e
os hábitos.
Virgem é um
signo de penitência, renúncia ao comando e gostos simples e rotineiros. Mesmo
se tornando Rainha do mundo inferior, Perséfone neste mito retorna à superfície
seis meses ao ano para viver uma vida simplória com sua mãe, colhendo flores.
VII NIDANA – LIBRA, A BALANÇA
O sétimo
Nidana é representado na arte tibetana como um homem com uma flecha cravada no
olho, significando as ilusões de dor e prazer, e seu impacto profundo na alma.
(Uma reflexão interessante: foi justamente este olho que Wothan sacrificou no
poço de Hregg-Mimir para adquirir a Mais Alta Sabedoria... se pensarmos nisto,
na regência de Libra por Venus, e as ligações venusinas da história de Wothan
que incluem principalmente Frya e a descoberta das Runas, podemos arriscar
dizer que Wothan era, possivelmente, libriano em sua encarnação terrena, e
conseguiu resignar seu nidana completamente).
Libra oscila
entre a dor e o prazer de forma extrema, e por isso é muito atento e sensível à
arte, ao simbolismo e às pessoas, e apesar de ser um signo cardeal, dominante,
tende a se colocar abaixo das pessoas para apaziguá-las e busca a paz a
qualquer custo. Isto porque, no fundo, apesar de sociável, Libra vê a
verdadeira vida na fruição e compreensão da vida interior, sendo o convívio
externo um mal necessário que deve ser apaziguado e calado quando conveniente.
Sendo algo delicado e de nervos frágeis (dependendo muito da aspectação com
Marte), possui uma grande arrogância interior que contrasta com sua necessidade
exterior de aprovação.
O mito deste
signo é o de Tirésias, um mortal que teve seu corpo transmutado várias vezes
durante a vida, vivendo alternadamente como homem e como mulher. Hera e Zeus,
no meio de uma briga, envolveram o mortal em seu argumento e pediram sua
opinião, já que tinha vivido sob ambos os sexos; Tirésias sabia que precisava
ser diplomático para não desagradar nenhuma das duas potestades, mas desagradou
a Zeus, que o cegou para sempre. Hera, para compensá-lo, deu a ele o dom de
enxergar a desgraça futura das pessoas para avisá-las. Representa, por conta
disso, a reflexão sem capacidade de ação, sendo o oposto arquetípico da ação
irrefletida de Aries.
VIII NIDANA – SCORPIO, O ESCORPIÃO
O oitavo
Nidana, Scorpio, é chamado Desejo, e significa a experiência da gratificação.
Por consequência, está conectado com a Morte, não no seu sentido de fim, mas no
sentido de mortificação dos desejos, de todas as negações e privações da vida.
O signo mais
profundo, Scorpio extrai o máximo de significado e aprendizado das
experiências, e se fortalece nas experiências de negação e privação, com um
poder de resiliência e regeneração crescentes. Por conta disso, é uma energia
extremamente sensual e de tendência dramática, melancólica e de agressividade
fria. Scorpio é também obstinado, e não leva conselhos em consideração.
O Escorpião
foi uma criação de Gaia, um ser pequeno e altamente venenoso que é a própria
síntese da Morte, para punir o gigante Órion, que se sentia invencível. O
simbolismo disto é a fragilidade do poder diante do fato de que nenhuma posição
na vida (ou na mente) é inatacável, e geralmente o ataque fatal vem de fatores
tão pequenos e imprevisíveis como um pequeno aracnídeo peçonhento, exigindo de
um homem íntegro que saiba lidar com suas mortes e se fortalecer através delas,
desfazendo a psique de seu apego à forma fornecido por Taurus.
IX NIDANA – SAGGITARIUS, O ARQUEIRO
O nono Nidana,
Saggitarius, O Arqueiro, significa indulgência, e é representado na arte
tibetana como um homem colhendo frutos numa cesta. Seu significado é o apego ao
mundano – não somente no tocante às possessões, mas aos raciocínios, leis,
dogmas e interpretações arquetípicos.
Sagittarius
possui uma energia otimista, indulgente, e sempre traz à tona o substrato
filosófico, religioso, epistêmico, etc, etc, da questão tratada, de maneira
questionadora mas dogmática. Por isso, apesar de ser mais profundo que sua
contraparte, Gemini, a energia de Sagittarius raramente permite a elevação do
pensamento além do arquetipicamente
estabelecido.
Seu mito é o
de Chiron, um centauro agraciado com a imortalidade, porém ferido
acidentalmente por Héracles com uma flecha embebida no veneno da Hydra de
Lerna; incapaz de morrer e agonizando eternamente, Chiron vagou pelo mundo
ensinando os jovens e praticando a cura, porém sempre incapaz de curar a si
mesmo. Finalmente foi presenteado por Zeus com o direito de morrer.
O significado
disto é a busca agônica de Sagittarius por significados essenciais, jamais
encontrados dentro de um pensamento racional que, invariavelmente, faz o
pensamento se dispersar no labirinto Labrelix.
X NIDANA – CAPRICORNIUS, O CAPRICÓRNIO
O décimo
Nidana, sob Capricórnio, significa a maturidade, o auge de desenvolvimento de
uma determinada questão.
Sua energia
flui através das dores do amadurecimento, medos, limitações, responsabilidades,
decepções e um esforço contínuo; estimula ambições e preocupação com status, e
se manifesta em surtos de esforço e laboriosidade. Em relação à força psíquica
influenciada, Capricornius estimula uma percepção cautelosa, auto-restrita e
responsável.
Seu mito é
relacionado com o patriarca da raça aquática, sábia e intelectual dos
Capricórnios, Pricus, que era parente de Chronos; previu a desgraça de seus
filhos se projetando no futuro, mas foi impotente para convencê-los a abandonar
seu fascino pela terra firme, que os tornava gradualmente estúpidos e
animalizados.
Isto simboliza
a agonia de Capricórnio por sua preocupação constante com os resultados das
ações, que frequentemente fogem ao controle da consciência. Em síntese,
Capricórnio e todos s seus processos mentais representam a projeção lúdica no
tempo, se perdendo em prováveis cenários futuros que emergirão como
consequência das ações presentes.
XI NIDANA – AQUARIUS, O PORTADOR DAS ÁGUAS
O décimo
primeiro Nidana, Aquarius, simboliza compensação, colheita das ações, e é
representado com o nascimento de um filho.
Uma energia
fria e racionalizante, Aquarius tem o paradoxo de estimular, simultaneamente, a
quebra de padrões preestabelecidos (resultando em rebeldia, insubordinação, e
um modo de agir bastante vanguardista e moderno), por um lado, e por outro lado
um idealismo sacralizante e o sacrifício de si através da dedicação a algum
ideal ou ciência.
Seu mito é o
de Ganymede, um jovem raptado e escravizado por Zeus; responsável pela adega de
seu amo e incumbido de servir-lhe a taça, Ganymede eventualmente se rebelou e
derramou todas as ânforas através das quais Zeus instilava no mundo o bem e o
mal, os misturando no Caos e ocasionando um dilúvio. Isto significa a
despreocupação aquariana pela moral, pelo preestabelecido, e uma tendência a
criar racionalizações próprias, nem sempre harmônicas com a superestrutura
cultural da sociedade (por isso mesmo renovando tal superestrutura).
Zeus, que
geralmente dá castigos sádicos a seus opositores, se arrependeu da injustiça
cometida com Ganymede e não o puniu, mas o honrou elevando-no a uma
constelação, Aquarius; isto significa o lado idealizador, gregário e
sacralizante da energia aquariana, que propicia um destacamento do pensar do
Ego e uma tendência a sacralizar um símbolo sagrado e torna-lo o centro
referencial da psique.
XII NIDANA – PISCES, OS PEIXES
O décimo
segundo Nidana, Pisces, significa o dissolver de todos os pontos de contato que
prendem a vida à sua forma material; é representado por um corpo descendo ao
túmulo.
A energia de
Pisces é extremamente intimista, introspectiva e dada a psicopatologias de toda
espécie. Por um lado, propicia o mergulho introspectivo mais profundo, mas por
outro lado tende a dificultar a auto-consciência, pela forte tendência de criar
mecanismos lúdicos e de auto-engano. Pisces propicia sensibilidade,
criatividade, percepção ampliada e devoção em relação à energia influenciada
pelo signo, mas também confusão, fragilidade, angústia e transtornos.
Seu mito é o
da primeira Sirene (ou Sereia), Derceto, que ao seduzir os marinheiros para sua
caverna aquática, mostrava para eles uma ilusão que representava seus maiores
sonhos; após o fascínio, ela modificava a ilusão e fazia todas aquelas coisas
decaírem e perecerem rapidamente, matando suas vítimas pelo choque do pavor.
Com isto, Derceto queria fazer as vítimas reviverem a jornada de desilusão e
agonia que ela mesma passara antes de tentar se suicidar e ser transformada por
Poseidon em uma sirene.
O significado
essencial disto está atrelado à atitude lúdica de projeção artificial de um eu
idealizado como mecanismo de defesa contra a crise psíquica que ameace a
integridade do eu; com frequência, a sensibilidade e a percepção ampliada, espiritualizante,
de Pisces, para ver o âmago das questões, mais fragiliza e apavora do que
fortalece, sendo necessária uma tremenda força de vontade para não ser engolido
pela fossa abissal dos significados ontológicos.
CONCLUSÕES PARCIAIS
Até o momento,
expliquei de forma bastante resumida, sem entrar em detalhes técnicos, o que é
a roda do zodíaco e como se erige um horóscopo com casas, signos, e os astros
em suas posições, o que são estas três coisas e como elas se interrelacionam
dentro da Bhavachakra, que é uma jornada psicológica através dos Labrelix,
sendo portanto um mecanismo essencial da Kalachakra.
Faltam várias
coisas a serem levadas em consideração; na sequência da série, exporei como os
pares opostos de signos se relacionam à doutrina dos Rokudo-Rinne, os seis
infernos que compõem o Samsara; em seguida falarei de aspectações, e sobre dois
pontos importantes de um horóscopo, conhecidos como Caput Draconis e Cauda Draconis,
que eu equiparo aos dois lobos de Wothan por estarem ligados intimamente à
forma de escape da roda do zodíaco.
Aguardem mais
novidades em breve!!
"O que sabemos do universo ao nosso redor? Nossos meios de receber impressões são absurdamente parcos, e nossas noções dos objetos que nos cercam infinitamente estreitas. Vemos as coisas apenas como somos designados para vê-las, e não podemos ter sequer idéia de sua natureza absoluta." (H. P. Lovecraft)
Ennoia, Isaria,
Aus der Lichte der Mond
Aus der Dunkel der Nacht
Nahst du dich in deiner Macht
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