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"[...] cá entre nós, isto é uma parábola: um bom astrônomo saberá ler nas estrelas sinais e símiles que nos permitem silenciar muitas coisas." (F.W. Nietzsche)

sábado, 1 de setembro de 2012

A Roda do Samsara e os Lobos que Wothan domou [Partes I e II]


A Roda do Samsara e os Lobos que Wothan domou 

"Nesta dimensão, o Rigor, que provém do Absoluto, não pode ser ausente: intrinsecamente, é a pureza adamantina do divino e do sagrado; extrinsecamente, é a limitação do perdão, devido à falta de receptividade de certas criaturas. O mundo é tecido com duas teias, rigor matemático e harmonia musical; ambas se unem numa homogeneidade superior que pertence à própria incomensurabilidade do Sagrado." (Frithjof Schuon, "Roots of the Human Condition")






PARTE I: AS RODAS CELESTIAIS

De seu assento astral, Avalokiteshvara gira a roda do Zodíaco e afoga os seres no Karma através do mecanismo infernal que opera; a 'grande compassiva' chora ao afundar os seres sencientes em formas cada vez mais sádicas de Karma, dolorosa mas firme na decisão de que somente um grande e incessante sofrimento pode purgar os entes de seu pecado original: a consciência em vias de despertar, como definida por Gurdjeff, Ouspensky e Moyano: como uma força de dessincronização da Vontade Egóica com o plano harmônico universal, de originalidade não-criada e autodeterminação ôntica. 


A Roda do Zodíaco, Roda do Karma, Roda da Fortuna ou Roda do Samsara, que Nostradamus representou como uma roda vazia para simbolizar o fim da existência, não é só uma analogia simbólica ou "poética", nem só uma linha imaginária nos céus. Explicarei como ela se configura, mas é importante notar o seguinte: ela é e não é algo físico. Melhor dizendo, a Roda do Zodíaco pode ser vista nos céus e dela deriva a Ciência Arquetípica que chamamos de Astrologia, mas como tal ela é apenas um NÍVEL FRACTAL da Roda do Karma, uma réplica em nível macro de um mesmo mecanismo harmônico que funciona em vários níveis da existência, inclusive no nível psicológico. 

Relembrando, a própria definição original de uma Ciência Arquetípica é um estudo que vem da percepção de que certas harmonias, como a Razão Dourada, se repetem como fractais em diferentes níveis, contextos, planos ou 'zooms' da existência. A Roda do Zodíaco funciona com os mesmos períodos harmônico-matemáticos  do que as forças psíquicas que identificamos (de forma sincronística, não causal) com os Astros, e daí derivam todas as analogias. 

Como consequência disto, quando olhamos a movimentação nos céus, percebemos forças em jogo que pervadem e determinam todos os níveis da existência, do micro ao macrocosmo - é essa roda múltipla, onipresente e imanente na matéria, que gira Binah, Avalokiteshvara, um dos Sephiroth (aspectos de manifestação) de Kronos-Jehova-IAO, o Demiurgo criador da matéria. 

A Roda do Zodíaco é uma divisão do céu entre 12 partes iguais - estas são as CASAS, ou Bhavas, como os hindus denominam. A primeira casa começa a leste, na direção do horizonte, coincidindo com o Sol nascente, e estendendo-se 30 graus para baixo do horizonte. De trinta em trinta graus, nessa direção, temos as casas celestiais. Ainda não estamos falando dos chamados "signos", apenas de uma divisão geométrica do horizonte, como na figura abaixo! 

[Inserir fig 1] 

Falando de uma maneira bem simplória, costumamos dizer que na contextualização das forças astrológicas, tais forças, os astros em si, são os atores de uma peça de teatro; os signos são o personagem que o ator representa, e a casa celestial, o cenário da peça. 

As doze casas são, e representam:

Casa
Nome
Regente
Contexto
1
Domus Vitae (a Casa da Vida ou do Ego)
Marte
Ego, iniciativa, primeiras impressões, características superficiais.
2
Domus Lucrum (a Casa dos Valores)
Vênus
Apegos, pertences, propriedades. Aquilo que se cultiva e faz crescer. Materialidade. Senso de utilidade e valor.
3
Domus Fratres (a Casa dos Irmãos)
Mercúrio
Educação formal, comunicação, inteligência. Conquistas.
4
Domus Genitor (a Casa dos Genitores)
Lua
Raízes, herança, o lar. A mãe, ou mantenedor(a) do lar. Fim de um ciclo.
5
Domus Nati (a Casa dos Nascidos)
Sol
Lazer, prazeres em geral. Amor e sexo. Filhos. Auto-expressão criativa.
6
Domus Valetudo (a Casa da Saúde)
Mercúrio
Rotina e deveres cotidianos. Habilidades e treinamentos adquiridos. Aquilo que se faz para os outros. Saúde física.
7
Domus Uxor (a Casa da Esposa)
Vênus
Relacionamentos íntimos e de confiança. Casamento e parcerias. Diplomacia (aliados e inimigos). Aquilo que nos atrai nos outros.
8
Domus Mors (a Casa da Morte)
Marte/Plutão
Ciclo de morte e reconstrução. Regeneração. Auto-transformação. Relacionamentos profundos. Ocultismo.
9
Domus Iter (a Casa da Jornada)
Júpiter
Aquilo que é estrangeiro. Erudição. Religião, Lei e Ética. Conhecimento. Viagens. Experiência adquirida ativamente.
10
Domus Regnum (a Casa do Reino)
Saturno
Ambições. Aquilo que motiva. Status, poder, autoridade. O pai ou o que sustenta o lar. Reputação perante os outros.
11
Domus Benefacta (a Casa Benfazeja)
Saturno/Urano
Amizades, contatos, grupos, sociedades, círculos. Aqueles que pensam de forma parecida. Desejos e esperanças.
12
Domus Carcer (a Prisão)
Júpiter/Netuno
Aquilo que é oculto, por baixo da superfície. Retiro, auto-reclusão, reflexão profunda, medos, auto-sacrifício. A Esfera de Sombra. O desconhecido.

As casas são preenchidas, nos mapas, pelos signos; logicamente, Áries se harmoniza com a primeira casa, Touro com a segunda, etc, etc, mas nem sempre os signos estão em ordem com as casas. Isto porque a roda que delimita os signos não se baseia no horizonte e nos pontos cardinais, mas no ECLÍPTICO, que é a linha imaginária do caminho que o Sol traça nos céus, visto do centro da terra. Os doze signos do Zodíaco são doze constelações que cruzam o Eclíptico e, por sua imensa distância, parecem estar fixas em relação à Terra.

Se os astros correlacionam harmonicamente com as forças psíquicas da construção do pensamento e as Casas correspondem ao plano de significação do pensamento, os Signos determinarão o enfoque intelectivo, o viés arquetípico subjacente ao pensar, ou seja, a ação da estrutura cultural habitual como linguagem de significação do contexto.


Os signos possuem sua casa própria e um astro regente, que é a força psicológica melhor harmonizada com a linguagem habitual que o Signo significa. Mais do que isso, os signos estão dispostos em seis pares opostos pelo vértice, o que tem um significado especial:

Todo Arquétipo, quando atualizado na matéria, é quebrado em um par de opostos cuja síntese perfeita é o Arquétipo em si. Logo, os doze signos aos quais as pessoas que gostam de Astrologia se ligam tanto, são na verdade seis forças primordiais, espelhadas. Procederemos a elas, depois de uma contextualização devida.

A advertência tanto de Siddharta ou Gurdjeff quanto de Moyano foi a do mecanicismo da mente, e da necessidade de cultivar a consciência. A busca desta consciência deve iniciar-se pela obtenção de um equilíbrio vetorial perfeito entre as esferas emotiva e racional da mente, sendo que existem seis forças que agem via nossa estrutura cultural habitual (ou seja, nossa lógica, nossa forma de construir ideias e pensamentos), as quais desequilibram nosso pensar, quer seja para o excesso de racionalidade, quer para o excesso de emoção ou subconsciência.

Estes ímãs, que a todo momento nos desviam do caminho reto da neutralidade, são chamados na doutrina budista de Lokas, “Planos de Reencarnação” ou reinos aonde os seres “reencarnam” sucessivas vezes dentro do Samsara (o Ciclo de Dor e Ignorância) até que escapem dele. E os Lokas são em número de seis, assim como os pares de signos do Zodíaco.

Reencarnação aqui não é algo literal. Para os intérpretes mais sofisticados, os Lokas são estados mentais nos quais a mente está submersa, quer seja por momentos, fases ou mesmo uma vida inteira. Na parte III, apresentarei os signos em seus pares arquetípicos, e como tal eixo sintético-supra-arquetípico corresponde a um Loka.
Antes, porém, cabe fazer um resumo compreensivo dos signos; ao longo dos artigos anteriores, foi apresentado o MITO de cada signo, o que não se deve entender como uma mera história: um mito é antes de tudo uma engrenagem, um fenômeno psíquico que, dadas as mesmas condições, se reproduz no mesmo formato – como ciclones, frentes frias ou explosões de supernovas.

PARTE II – O BHAVACHAKRA COMO EXPRESSÃO FRACTAL DA KÂLACHAKRA
O Bardö Thödhöl, o Livro dos Mortos tibetano, dá descrições minuciosas do processo de “reencarnação”; controverso é tomar isto literalmente, pois é perfeitamente possível interpretar a jornada fúnebre da alma como a “noite escura da alma” de São João da Cruz, uma jornada psicológica por diversos estados transientes, que numa sequência lógica são conduzentes ao aprisionamento espiritual ou, o que dá no mesmo, à conformidade da alma ao plano entelequial Elix.

O Bhavachakra, ou Roda das Casas, é o Horóscopo em si, e é uma analogia macrocósmica, em escala gigantesca, dos mecanismos da espiral Kalachakra; os Bhavas são divisões de 30 graus nos céus, e servem para determinar o contexto significativo do astro/força psicológica, como na tabela acima; cda Bhava é regido por um Nidana (“motivo de reencarnação”) ou Signo (potência interferente da modalidade estrutural da estrutura cultural habitual). Vamos relembrar em sequência os doze Nidanas e seus mitos geradores.

  
I NIDANA – ARIES, O VELOCINO DE OURO
                O primeiro Nidana, Aries, é a vontade inconsciente; na representação tibetana é um homem cego, significando a passagem na alma da morte para um novo nascimento.
                O primeiro dos signos possui uma energia agressiva, ativa, impulsiva, tirânica, entusiasmada, dotada de um senso próprio de justiça.
                Seu mito grego é o velocino de ouro, atrás do qual Jasão e os argonautas saíram através de diversas batalhas e dificuldades. O carneiro que o portava salvara duas crianças gêmeas, uma menina e um menino, de serem sacrificados ritualmente – permitindo simbolicamente, como Adão e Eva, Líf e Lifthransir, etc, um recomeço e uma continuidade da existência humana.

                II NIDANA – TAURUS, O MINOTAURO
                O segundo Nidana, Taurus, é a conformação, o tomar uma forma e assumi-la; na representação tibetana, é um oleiro, e seus potes significam que a alma molda o formato de seus recipientes materiais.
                O segundo dos signos possui uma natureza obstinada, centrada, segura, sensual, material.
                Seu mito é o do Minotauro, que pôde ser derrotado por Theseus graças ao fio de Ariadne que o mantinha orientado no labirinto. O significado disto é que a forma (Labirinto) desorienta e confunde, e que somente o isolamento espiritual e a reorientação à parelha arquetípica (o novelo e Ariadne respectivamente) podem anular o efeito do Labirinto e permitir o confronto com seu guardião. A energia de Taurus é uma espada de dois gumes: propicia, por um lado, o isolamento egóico, a separação do “eu” em relação ao “resto”, e por outro lado propicia uma percepção materialista, pragmática, do assunto em mãos.
               
III NIDANA – GEMINI, OS GÊMEOS
                O terceiro Nidana, Gemini, é a vontade anímica consciente, o princípio mercuriano do intelecto que é representado na arte tibetana como um macaco que salta sem nunca se cansar.
                O terceiro dos signos é racional, intelectual, hiperativo, rápido, dinâmico e incansável, porém superficial se comparado à sua contraparte no IX Nidana, Saggitarius.
                Seu mito é o dos Dioscuri, Castor e Pollux, dois irmãos inseparáveis, porém Castor era mortal, e Pollux era um semideus imortal. Os Dioscuri, juntos, sabiam acalmar os mares, e com frequência salvaram a expedição de Jasão do naufrágio; na Grécia, até hoje é um sinal de sorte para os marinheiros quando as estrelas dos Dioscuri brilham no céu. O significado disto é que o poder da razão com frequência reduz o risco psicológico de “navegar no desconhecido”, acalmando a psique com definições e certezas racionais que, falsas ou verdadeiras, tornam a jornada da vida mais “suave” e plana.
Quando Castor morreu em batalha, Pollux se revoltou contra os deuses e se recusou a subir ao Olimpo. Tocado pela lealdade dos irmãos, Zeus fez um arranjo onde eles poderiam viver juntos se alternassem seus dias no Olimpo e no Hades. Isto simboliza as duas operações da razão, indução e dedução, como construtoras da realidade mental e sintetizadora de princípios opostos.

IV NIDANA – CANCER, O CARANGUEIJO
O quarto Nidana, Cancer, é o ego incipiente da personalidade anímica, e é representado por um homem num navio com esposa e animais.
A essência do signo de Câncer são raízes, tradições, o lar, e tudo em que a alma se apoia para definir a si mesma contextualmente.
Quando Héracles lutava contra a Hydra de Lerna, Hera enviou um grande carangueijo leal a ela para pinçar o calcanhar do herói e atrapalhá-lo. Cheio de dor, Héracles esmagou o carangueijo com o pé; Hera, carinhosamente grata ao apoio de seu débil mas corajoso súdito, elevou sua imagem aos céus como a constelação de Câncer.
A lealdade (tipicamente canceriana, aliás) do animal por Hera reflete os valores que a própria Hera, como Saga entre os germanos, representa: lar, família e memória: em uma palavra, as âncoras da alma.

V NIDANA – LEO, O LEÃO
O quinto Nidana, Leo, é representado como uma casa vazia, significando o desenvolvimento da expressão sensorial.
Um signo régio, leal, corajoso, extrovertido, vaidoso e arrogante, representa o máximo poder de expressão exterior dos conteúdos microcósmicos.
Seu mito é o do Leão de Neméia, que Héracles teve de matar em sua primeira tarefa. Depois de falhas todas as armas, ele estrangulou o leão. Matar algo com as mãos significa honestidade, lidar com os problemas com os próprios recursos, sem ajuda exterior. Depois de morto o leão, Héracles fez para si uma capa com o couro do animal, ficando ele mesmo invulnerável a qualquer arma da época. Simbolicamente, sendo Leão regido pelo Sol, a força astrológica que operar neste signo será expressa e vibrada pela mente sem entraves, sendo protegida de ataques externos devido à grande autoconfiança envolvida – mas sempre vulnerável a crises geradas internamente, especialmente quando o ego anímico não é suficientemente alimentado por corroborações externas.

VI NIDANA – VIRGO, A VESTAL
Representado por uma imagem de casamento, o sexto Nidana é o focar progressivo da mente nos objetos exteriores.
Um signo frio, racional e analítico, paradoxalmente é introspectivo, sendo o ego mergulhado numa ramificação excessiva de detalhes, classificações e racionalizações.
Ligado com o mito do rapto de Perséfone e a busca de Demeter pela filha, o signo de Virgem também tem conexões arquetípicas com gestações e fomentos de toda espécie, assim como a saúde física: furiosa com o rapto, Demeter proibiu todas as plantas da terra de gerar fruto até que o culpado se apresentasse – representando o poder de Virgem de gerar os “frutos” de ações minuciosamente planejadas, pensamentos metodicamente construídos e estratégias maquiavélicas – numa palavra, tudo o que exige graus de detalhamento e repetição monótona superiores ao que a mente costuma conseguir focar.Um significado mais antigo para Virgem é a lareira dos lares, consagrada a Héstia, a guardiã do lar – não a mãe carinhosa, mas a planejadora metódica da “casa”, que organiza a rotina e os hábitos.
Virgem é um signo de penitência, renúncia ao comando e gostos simples e rotineiros. Mesmo se tornando Rainha do mundo inferior, Perséfone neste mito retorna à superfície seis meses ao ano para viver uma vida simplória com sua mãe, colhendo flores.

VII NIDANA – LIBRA, A BALANÇA
O sétimo Nidana é representado na arte tibetana como um homem com uma flecha cravada no olho, significando as ilusões de dor e prazer, e seu impacto profundo na alma. (Uma reflexão interessante: foi justamente este olho que Wothan sacrificou no poço de Hregg-Mimir para adquirir a Mais Alta Sabedoria... se pensarmos nisto, na regência de Libra por Venus, e as ligações venusinas da história de Wothan que incluem principalmente Frya e a descoberta das Runas, podemos arriscar dizer que Wothan era, possivelmente, libriano em sua encarnação terrena, e conseguiu resignar seu nidana completamente).
Libra oscila entre a dor e o prazer de forma extrema, e por isso é muito atento e sensível à arte, ao simbolismo e às pessoas, e apesar de ser um signo cardeal, dominante, tende a se colocar abaixo das pessoas para apaziguá-las e busca a paz a qualquer custo. Isto porque, no fundo, apesar de sociável, Libra vê a verdadeira vida na fruição e compreensão da vida interior, sendo o convívio externo um mal necessário que deve ser apaziguado e calado quando conveniente. Sendo algo delicado e de nervos frágeis (dependendo muito da aspectação com Marte), possui uma grande arrogância interior que contrasta com sua necessidade exterior de aprovação.
O mito deste signo é o de Tirésias, um mortal que teve seu corpo transmutado várias vezes durante a vida, vivendo alternadamente como homem e como mulher. Hera e Zeus, no meio de uma briga, envolveram o mortal em seu argumento e pediram sua opinião, já que tinha vivido sob ambos os sexos; Tirésias sabia que precisava ser diplomático para não desagradar nenhuma das duas potestades, mas desagradou a Zeus, que o cegou para sempre. Hera, para compensá-lo, deu a ele o dom de enxergar a desgraça futura das pessoas para avisá-las. Representa, por conta disso, a reflexão sem capacidade de ação, sendo o oposto arquetípico da ação irrefletida de Aries.

VIII NIDANA – SCORPIO, O ESCORPIÃO
O oitavo Nidana, Scorpio, é chamado Desejo, e significa a experiência da gratificação. Por consequência, está conectado com a Morte, não no seu sentido de fim, mas no sentido de mortificação dos desejos, de todas as negações e privações da vida.
O signo mais profundo, Scorpio extrai o máximo de significado e aprendizado das experiências, e se fortalece nas experiências de negação e privação, com um poder de resiliência e regeneração crescentes. Por conta disso, é uma energia extremamente sensual e de tendência dramática, melancólica e de agressividade fria. Scorpio é também obstinado, e não leva conselhos em consideração.
O Escorpião foi uma criação de Gaia, um ser pequeno e altamente venenoso que é a própria síntese da Morte, para punir o gigante Órion, que se sentia invencível. O simbolismo disto é a fragilidade do poder diante do fato de que nenhuma posição na vida (ou na mente) é inatacável, e geralmente o ataque fatal vem de fatores tão pequenos e imprevisíveis como um pequeno aracnídeo peçonhento, exigindo de um homem íntegro que saiba lidar com suas mortes e se fortalecer através delas, desfazendo a psique de seu apego à forma fornecido por Taurus.

IX NIDANA – SAGGITARIUS, O ARQUEIRO
O nono Nidana, Saggitarius, O Arqueiro, significa indulgência, e é representado na arte tibetana como um homem colhendo frutos numa cesta. Seu significado é o apego ao mundano – não somente no tocante às possessões, mas aos raciocínios, leis, dogmas e interpretações arquetípicos.
Sagittarius possui uma energia otimista, indulgente, e sempre traz à tona o substrato filosófico, religioso, epistêmico, etc, etc, da questão tratada, de maneira questionadora mas dogmática. Por isso, apesar de ser mais profundo que sua contraparte, Gemini, a energia de Sagittarius raramente permite a elevação do pensamento além  do arquetipicamente estabelecido.
Seu mito é o de Chiron, um centauro agraciado com a imortalidade, porém ferido acidentalmente por Héracles com uma flecha embebida no veneno da Hydra de Lerna; incapaz de morrer e agonizando eternamente, Chiron vagou pelo mundo ensinando os jovens e praticando a cura, porém sempre incapaz de curar a si mesmo. Finalmente foi presenteado por Zeus com o direito de morrer.
O significado disto é a busca agônica de Sagittarius por significados essenciais, jamais encontrados dentro de um pensamento racional que, invariavelmente, faz o pensamento se dispersar no labirinto Labrelix.

X NIDANA – CAPRICORNIUS, O CAPRICÓRNIO
O décimo Nidana, sob Capricórnio, significa a maturidade, o auge de desenvolvimento de uma determinada questão.
Sua energia flui através das dores do amadurecimento, medos, limitações, responsabilidades, decepções e um esforço contínuo; estimula ambições e preocupação com status, e se manifesta em surtos de esforço e laboriosidade. Em relação à força psíquica influenciada, Capricornius estimula uma percepção cautelosa, auto-restrita e responsável.
Seu mito é relacionado com o patriarca da raça aquática, sábia e intelectual dos Capricórnios, Pricus, que era parente de Chronos; previu a desgraça de seus filhos se projetando no futuro, mas foi impotente para convencê-los a abandonar seu fascino pela terra firme, que os tornava gradualmente estúpidos e animalizados.
Isto simboliza a agonia de Capricórnio por sua preocupação constante com os resultados das ações, que frequentemente fogem ao controle da consciência. Em síntese, Capricórnio e todos s seus processos mentais representam a projeção lúdica no tempo, se perdendo em prováveis cenários futuros que emergirão como consequência das ações presentes.

XI NIDANA – AQUARIUS, O PORTADOR DAS ÁGUAS
O décimo primeiro Nidana, Aquarius, simboliza compensação, colheita das ações, e é representado com o nascimento de um filho.
Uma energia fria e racionalizante, Aquarius tem o paradoxo de estimular, simultaneamente, a quebra de padrões preestabelecidos (resultando em rebeldia, insubordinação, e um modo de agir bastante vanguardista e moderno), por um lado, e por outro lado um idealismo sacralizante e o sacrifício de si através da dedicação a algum ideal ou ciência.
Seu mito é o de Ganymede, um jovem raptado e escravizado por Zeus; responsável pela adega de seu amo e incumbido de servir-lhe a taça, Ganymede eventualmente se rebelou e derramou todas as ânforas através das quais Zeus instilava no mundo o bem e o mal, os misturando no Caos e ocasionando um dilúvio. Isto significa a despreocupação aquariana pela moral, pelo preestabelecido, e uma tendência a criar racionalizações próprias, nem sempre harmônicas com a superestrutura cultural da sociedade (por isso mesmo renovando tal superestrutura).
Zeus, que geralmente dá castigos sádicos a seus opositores, se arrependeu da injustiça cometida com Ganymede e não o puniu, mas o honrou elevando-no a uma constelação, Aquarius; isto significa o lado idealizador, gregário e sacralizante da energia aquariana, que propicia um destacamento do pensar do Ego e uma tendência a sacralizar um símbolo sagrado e torna-lo o centro referencial da psique.

XII NIDANA – PISCES, OS PEIXES
O décimo segundo Nidana, Pisces, significa o dissolver de todos os pontos de contato que prendem a vida à sua forma material; é representado por um corpo descendo ao túmulo.
A energia de Pisces é extremamente intimista, introspectiva e dada a psicopatologias de toda espécie. Por um lado, propicia o mergulho introspectivo mais profundo, mas por outro lado tende a dificultar a auto-consciência, pela forte tendência de criar mecanismos lúdicos e de auto-engano. Pisces propicia sensibilidade, criatividade, percepção ampliada e devoção em relação à energia influenciada pelo signo, mas também confusão, fragilidade, angústia e transtornos.
Seu mito é o da primeira Sirene (ou Sereia), Derceto, que ao seduzir os marinheiros para sua caverna aquática, mostrava para eles uma ilusão que representava seus maiores sonhos; após o fascínio, ela modificava a ilusão e fazia todas aquelas coisas decaírem e perecerem rapidamente, matando suas vítimas pelo choque do pavor. Com isto, Derceto queria fazer as vítimas reviverem a jornada de desilusão e agonia que ela mesma passara antes de tentar se suicidar e ser transformada por Poseidon em uma sirene.
O significado essencial disto está atrelado à atitude lúdica de projeção artificial de um eu idealizado como mecanismo de defesa contra a crise psíquica que ameace a integridade do eu; com frequência, a sensibilidade e a percepção ampliada, espiritualizante, de Pisces, para ver o âmago das questões, mais fragiliza e apavora do que fortalece, sendo necessária uma tremenda força de vontade para não ser engolido pela fossa abissal dos significados ontológicos.

CONCLUSÕES PARCIAIS
Até o momento, expliquei de forma bastante resumida, sem entrar em detalhes técnicos, o que é a roda do zodíaco e como se erige um horóscopo com casas, signos, e os astros em suas posições, o que são estas três coisas e como elas se interrelacionam dentro da Bhavachakra, que é uma jornada psicológica através dos Labrelix, sendo portanto um mecanismo essencial da Kalachakra.

Faltam várias coisas a serem levadas em consideração; na sequência da série, exporei como os pares opostos de signos se relacionam à doutrina dos Rokudo-Rinne, os seis infernos que compõem o Samsara; em seguida falarei de aspectações, e sobre dois pontos importantes de um horóscopo, conhecidos como Caput Draconis e Cauda Draconis, que eu equiparo aos dois lobos de Wothan por estarem ligados intimamente à forma de escape da roda do zodíaco.

Aguardem mais novidades em breve!!


"O que sabemos do universo ao nosso redor? Nossos meios de receber impressões são absurdamente parcos, e nossas noções dos objetos que nos cercam infinitamente estreitas. Vemos as coisas apenas como somos designados para vê-las, e não podemos ter sequer idéia de sua natureza absoluta." (H. P. Lovecraft) 




Ennoia, Isaria,
Aus der Lichte der Mond
Aus der Dunkel der Nacht
Nahst du dich in deiner Macht

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