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"[...] cá entre nós, isto é uma parábola: um bom astrônomo saberá ler nas estrelas sinais e símiles que nos permitem silenciar muitas coisas." (F.W. Nietzsche)

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Saturno Astrológico


Saturno Astrológico

Nem os céus sobre eles afirmam tal conhecimento,
Nem sua prudência escapa ao destino.”
(Virgílio, sobre os augúrios).


Na física aristotélica original, a Esfera mais fria e distante do universo pertencia a Saturno, que sendo a Esfera exterior, continha as demais e delimitava os limites do cognoscível.

                Desta forma, a significação fundamental de Saturno é justamente “limites”. Se Júpiter representava a Vontade Consciente, o Crescente do Ego sobreposto à Cruz da matéria (o ato de “levantar os olhos do umbigo”), no glifo de Saturno o Ego é completamente subjugado pela matéria: como um substrato das esferas racional e de consciência, Saturno indica os limites, as limitações, fronteiras, medos, responsabilidades e toda forma de “tu deves” – nos aproximaremos da questão aos poucos.

                Como o guardião da fronteira externa do cognoscível e a esfera que contém todas as demais, estruturalmente Saturno deve estar ligado à idéia daquilo que, em toda ordem universal, é imanente e isotrópico – para os Antigos, tal propriedade é o Tempo, cuja fluência sustenta estruturalmente o fenomênico.

                Em grego, a noção de tal tempo é traduzida por Chronos (Χρόνος), deus sem corpo nem forma, companheiro de Ananke, a Inevitabilidade (notar correlação com o egípcio Ankh), formador de todo o existente. Segundo tanto cabalistas e satanistas tradicionais, a união espiralada de Chronos e Ananke forma o Aion, princípio de toda magia, como a dualidade celta Bu/As. Por vezes se tem confundido Chronos com Kronos (Kρόνος), o titã que devorava seus filhos para que não o sobrepujassem, e que castrou Oranos, seu pai, para presidir sobre os céus até ser derrotado por Zeus numa era posterior.

                Tem-se afirmado que são entidades diferentes; entretanto, sabemos que todo princípio pode ser separado em arquétipo (essência astral) e ente (manifestação); a diferença entre o pantocrátor sem forma e o titã devorador está em uma letra, na letra inicial – enquanto o Chi grego (X) tem a mais suave sonoridade de todas as letras, quase não pronunciada (sugerindo um caráter etéreo, delicado, intangível, astral), o K é angular, incisivo, rude, indicando nesse caso o concreto, o manifesto (os gnósticos designam com a junção destas letras: HK (XK), o princípio Eterno que é a fonte do Vril, da energia infinita que sustenta a existência perene além do Parabrahman e de todos os Kalpas, a essência que Chronos tentou imitar de maneira tosca ao criar tempo e espaço).

O titã, então, é a manifestação do Tempo na sua própria fluência, como princípio organizador, e que ao castrar Oranos (o que há mais além) quis circunscrever e limitar a existência às suas leis, negando o acesso às esferas superiores, ou seja, negando a individuação completa da Consciência: a Cruz da Matéria subjugando o Ego significa que o mundo externo exerce uma pressão terrível que impede à consciência se considerar uma existência isolada e auto-suficiente: a Esfera de Saturno nos imbui de sensos de responsabilidade e dever, laços com o mundano e compromissos com o macrocósmico em geral.

Os hindus falam de Kroni, um demônio sádico que rege o submundo para onde são mandados os piores indivíduos após a morte: sofrendo horrivelmente nesse plano de existência, a alma só adquire o direito de reencarnar após um forte arrependimento de suas ações: é a mesma ação de Saturno, pois o arrependimento é o senso tardio do dever. Outras analogias mitológicas são os deuses levantinos El e Baal, ambos deuses do sacrifício humano (como o Kronos mitológico, cuja ação de antropofagia simboliza a inevitabilidade do fim para todo o criado: a foice de Kronos, no folclore cristianizado, se transformou na foice do Colecionador de Almas, da “dona Morte”). Saturno é associado por Theodorus Siculus a IAO, verdadeira pronuncia do Tetragrammaton I-H-V-H originado de Iod-Havah que, no Atziluth, é o nome de Jehova Elohim, o sephirah Binah, “spiritus sancti” ou aspecto Sabedoria de IAO, o deus judaico tomado emprestado pelo cristianismo.

Sendo a oitava superior de Vênus, num sentido estrutural, Saturno é sua antítese psicológica: Vênus sustenta o Ego e o protege contra as forças de dissolução kármicas, enquanto Saturno é o próprio Karma, neste sentido, pois obriga o ego a se acorrentar a parâmetros externos a si mesmo: mesmo com o apodo de “Grande Maligno” dado pelos Romanos, os astrólogos vêem em Saturno uma ação positiva apesar de mórbida, pois ao lapidar o Ego e impingir leis, normas e o senso de dever, o professor rigoroso ensina o auto-aperfeiçoamento, a ambição, o trabalho árduo, o senso de dever, e ao contrário da generosidade ilimitada de Júpiter, dá o pagamento justo, recompensando com mais poder o trabalho duro e conduzindo a pessoa de volta às lições da qual ela quis fugir anteriormente, e precisa passar.

É possível, para os suficientemente auto-conscientes, USAR Saturno desta maneira; observando sua posição no mapa, seu signo e casa hospedeiros, e as relações com outros astros, é possível denotar onde e como o karma irá testá-los, e se fortificar para as lições vindouras –sublimadas e trespassadas, são uma fonte de poder interno e trazem uma relativa tranqüilidade temporária, karmicamente falando. Alguns autores satanistas falam da noção de “sofrimento intencional” ou calculado, que se resume em atacar a lição kármica o mais rápida e fortemente possível para, cumprido o dever, ter um período de calmaria para correr atrás dos próprios objetivos que o Ego cobiça. Mutatis mutandis, é algo para se refletir.

Na Astrologia Védica, fixa-se o período do primeiro retorno de Saturno à sua posição original – entre os 22,5 anos e os 30 anos de idade da pessoa – como um período de testes e provações, de cujo sucesso ou fracasso dependerá o Karma que o indivíduo deverá carregar o resto de sua existência.

Isto entende-se melhor através do mito de Pricus, o ancestral da raça mitológica dos peixes-cabra, o mito que originou o signo de Capricórnio, o primeiro regido por Saturno; dizem os manuscritos de Delphi que Pricus era um animal divino, aparentado de Chronos; sua prole, os peixes-cabra, eram sábios e inteligentes e sabiam falar; porém, eram muito atraídos pela terra, então começaram a deixar as águas e com isso se tornavam cabras comuns, sem inteligência nem fala. Pricus, desesperado pelo destino da prole, usou seus poderes de parente de Chronos e reverteu o tempo para traze-los todos de volta. Porém, só ele sabia do futuro com exatidão, e seus filhos não creram no conselho dele de não ir à terra: assim, Pricus adquiriu a sabedoria mas descobriu que ela não podia alterar o destino ou a vontade de ninguém – ao contrário, sua prudência era tomada como aborrecimento, sua sabedoria como rabugice, pela prole jovem e cheia de desejos. Solitário e amargo, pediu a Chronos para morrer, mas ao invés disso foi eternizado nos céus como a constelação de Capricórnio.

O capricorniano típico é responsável, maduro, ambicioso, enérgico e trabalhador, mas com freqüência é tomado como um ser rabugento, sério, fatalista e sorumbático, pois é comum entre os prudentes que se exasperem com o fato de outros serem menos prudentes, sem aprender a lição de Pricus de que o destino, Karma, gerado pelos desejos, é inevitável a menos que seja trabalhado por dentro, microcosmicamente. Informação é transmissível, mas sabedoria e experiência são incomunicáveis. A chave da sabedoria íntima está em compreender como o desejo gera Karma, e como queimá-lo ou evitá-lo de maneira devida – nesse sentido, entender a posição de Saturno no mapa astral pode ser fundamental para compreender a chave do drama que se deve virar para que, como diz Platão, finis tragoedia, incipit comoedia – termine a tragédia e comece a comédia, o espetáculo risível visto a partir de olhos transmutados alquimicamente.

Dizem os budistas que o on, a dívida de honra adquirida com alguém, pode ser quitada simplesmente ao se ensinar a Doutrina (budista); o fundo de verdade disto está no fato de que em geral, as culpas e medos e pesos na consciência trazidos pelo Karma compelem a mente a tentar um mecanismo compensatório através da dedicação a algo ou alguém; a pesquisa, a filantropia, a concentração suprema, a abnegação, todos são mecanismos de compensação a alguma espécie de culpa percebida pelo ego e travestida de dever: tal é a razão de EXISTIR um Karma em primeiro lugar – uma pilha que dá energia e motivação para as pessoas... produzirem!

Esta outra faceta do Karma – a sublimação da culpa e da crise em atitude ética sacralizante, é melhor expressa pelo outro signo regido por Saturno, Aquário, o Portador das Águas. O mito que origina o signo é o de Ganymede, um jovem extremamente belo que chamou a atenção de Zeus, que o seqüestrou como amante e servo, servindo bebidas a Zeus quando este desejasse; Ganymede um dia se revoltou contra sua escravidão e derramou ao chão todos os barris de ambrosia e toda a água do Olimpo, criando o dilúvio. Porém, ao invés da vingança cruenta que Zeus costuma impingir a todos os seus opositores, o ato de Ganymede o fez cair em si e perceber a injustiça de sua atitude, e como recompensa ele imortalizou Ganymede nos céus como uma constelação.

Pode-se dizer que Zeus aqui tomou consciência do Karma que ele mesmo gerou, o que o compeliu anormalmente a uma ação compensatória; costuma-se associar as pessoas de Aquário com esse impulso humanista e social, que busca sempre agir em prol do bem comum e buscar a Verdade acima de tudo: a imagem do guerrilheiro revolucionário e do cientista moderno são igualmente aquarianas, pois são saturninas no sentido de estrutura e ordem, porém expressando um desejo de reforma, de progresso, de bem comum aliado a uma rebeldia natural que faz com que não aceitem autoridades não explicadas, não se contentem com dogmas nem com o místico, mas aceitem somente fatos racionalmente comprovados; o aquariano adora princípios e desafia o arbitrário para denodar suas leis e dinâmicas ocultas: a epítome do signo de Aquário é um dito comum entre os economistas, “mentes frias a serviço de corações ardentes”.

Tudo isso reunido, cabe apenas mais um comentário; eu resumi o quanto pude, ao essencial e arquetípico, um perfil de Saturno, pois a multiplicidade de mitos e versões desse astro podem confundir se não se tem em mente que os mitos orbitam em torno de um núcleo mais ou menos indiscernível que é o próprio Arquétipo daquela esfera astrológica; como o deus predominante em todos os cultos modernos, Saturno se multiplicou numa gama imensa de mitos, cuja exposição aqui só confundiria ao invés de ajudar – por isso, peço desculpas pela pobreza dessa dissertação, e espero poder ter transmitido o essencial e indispensável: que Saturno, o Grande Maléfico, uma força terrível de se peitar de frente, não deve ser totalmente confiada pois é cortante e pungente, e não se deve lidar com ela de forma passiva, mas que é possível compreender astrologicamente a forma como Saturno se manifesta na sua vida e “dançar” alquímica e psicologicamente com o astro, se fortalecendo com suas lições e o abandonando por fim, rumo aos astros trans-saturninos, a pura esfera de consciência sem condicionamentos subconscientes – ou seja, rumo a Urano, Oranos, o Céu que existe mais além!



Por essa razão, depois de avaliar intelectualmente os seus problemas através do senso comum e extrair o que a psiquiatria nos tem ensinado, se você ainda não pode emocionalmente liberar a si mesmo da culpa injustificada, e pôr suas teorias em ação, então você deveria aprender a fazer a sua culpa trabalhar para si. Deveria agir sobre os seus instintos naturais, e então, se você não consegue se realizar sem o sentimento de culpa, divirta-se na sua culpa. Isto pode soar como uma contradição de termos, mas se você pensar sobre isto, culpa pode freqüentemente acrescentar um estímulo aos sentidos. Adultos deveriam aprender bem a lição com as crianças. Crianças freqüentemente têm prazer em fazer alguma coisa que eles sabem que não deveriam fazer”. (da Bíblia Satânica)



Ennoia, Isaria,
Aus der Lichte der Mond
Aus der Dunkel der Nacht
Nahst du dich in deiner Macht

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Júpiter Astrológico

Júpiter Astrológico



“Uma peregrinação física é uma encenação de uma jornada interior, que é a interpolação de signos e conteúdos da jornada exterior. Pode-se ter uma sem a outra – mas o melhor é ter ambas.”
                - Pe. Thomas Merton


                "Sê gracioso, ó filho onisciente de Kronos, o mais excelente e grandioso!", como dizem os hinos homéricos!

                Júpiter, do proto-indo-ariano Dyans Pitar, “Deus Pai”, ocupa certamente entre os astros do céu um papel paternal. A maior massa e diâmetro de todos os corpos exceto o Sol, já foi proposto que a imensa massa do planeta e seu campo gravitacional poderoso protegem os planetas mais internos de um bombardeamento mais intenso de asteróides; à parte disso, tudo em Júpiter impõe respeito: o planeta possui o maior número de luas, 64 ( oito vezes oito), sendo um real “pai de família” ou um mini-sistema-solar dentro do sistema que encerra o nosso Sol, e sendo também um corpo que irradia energia mais do que recebe, uma luz própria.

                O que é certo é que o Jupiter, ou Jove, Greco-Romano não tem absolutamente nada a ver com Jehova, ‘Deo Pater Omnipotens’ dos cristãos, judeus e maometanos. À parte o caráter paternal, patriarcal e centralizador de ambas as personalidades, passo a apontar aqui as diferenças cruciais – Jehova será melhor estudado quando falarmos de Kronos-Saturno.

                O símbolo de Júpiter é o resumo arquetípico de seu caráter: o crescente da personalidade (Ego) elevado por sobre a cruz da Matéria. Júpiter, também chamado de Fortuna Major pelos alquimistas antigos e de “Grande Benéfico” pelos astrólogos modernos, tem significados e atribuições aparentemente numerosos: rege os ideais, filosofia, religião, convicções, e ao mesmo tempo a moral, a boa sorte e campos para onde podemos nos expandir com sucesso. Jupiter também é carregado com um significado de jovialidade (de Jove, Júpiter), de alegria e otimismo, ganhando quase o caráter de um Buda bonachão – daí que uma má aspectação num mapa signifique otimismo desenfreado, languidez, preguiça, confiança injustificada.

Toda essa parafernália de significados será aqui reduzida a seus significados essenciais.

Quando o crescente – a personalidade, o acúmulo de experiências – se sobrepõe à cruz da Matéria, é porque as experiências se cristalizaram em verdades adquiridas, e estas foram elevadas ao status de ideal, de crença. A posição de Júpiter num mapa astral indica, primeiro de tudo, as circunstâncias e a forma com que as experiências isoladas são sintetizadas, via indução de uma série de particulares ao geral, em leis, normas, dogmas, crenças e verdades internas. É a força sintética de indução, por um lado, e uma força que compila essas “lições” em uma visão ideológica completa: uma visão transcendente, que guia as escolhas e harmoniza ao redor de si as forças da consciência.

Zeus foi o vencedor de Kronos, o vencedor do tempo e das limitações e medos, e dos Titãs, as forças primevas da natureza, banindo o irracional para a Esfera de Sombra (Tártaro) e capitalizando as forças restantes em torno da visão eidética que incorpora. Neste vídeo do jogo God of War II temos Júpiter usando seu poder do Raio (o Raio de Indra, a palavra de ordem da consciência que despedaça o pensamento indesejado) para derrotar e aprisionar os primitivos Titãs e tomar para si o Olimpo:



O primeiro signo regido por Júpiter é Sagittarius, chamado O Arqueiro, mas na verdade diz respeito a Chiron, um centauro imortal ferido acidentalmente por Hércules, com uma flecha embebida no sangue de Hydra. Incapaz de morrer e vivendo em eterna agonia por conta do veneno, Chiron se dedicou a ensinar e curar os demais, com a esperança de encontrar o remédio para o próprio veneno. Entendemos a regência de Júpiter aqui, pois Jupiter rege tudo relacionado a ideais, filosofias, o ensino (transmissão de leis e dogmas).

Enquanto Marte é uma força plástica do subconsciente, de natureza volitiva, capaz de moldar o hábito e de sobrepujar o medo e o automatismo das reações, Júpiter é a força plástica, moldadora, de caráter dogmático, da consciência, pois julga e direciona as nossas ações de acordo com a filosofia e os ideais que adquirimos. Fornece um senso transcendental de ideal (a missão de Chiron) e “representa, no geral, a mente superior, o erguer os olhos para além de si (a flecha do Arqueiro) com visões de verdade, ideal, compreensão, sabedoria e aspiração” (Carl Wöbcke).

Pode parecer aqui que estamos falando de um processo intelectivo, portanto pertencente a Mercúrio. Porém, como explicado no artigo anterior, estamos agora falando da Esfera de Consciência, o reino dos pensamentos intencionais e bem lembrados: aqui, as fronteiras entre racional, emotivo, instintivo, etc, etc, se rompem – pois o pensamento se formou lá atrás, na Esfera de Sombra ou subconsciência, e simplesmente foi tornado consciente. Mercúrio simplesmente armazena e interliga conteúdos mentais, mas é Júpiter que transforma em Sabedoria o apreendido.

Dito isto, Júpiter pode ser apreendido como “instinto da consciência”, ou grilo falante, que se põe como pai e regente das outras forças mentais, que ele tenta orquestrar e harmonizar – de seus dois grandes jarros, Zeus/Jove/Jupiter dispensa o bem e o mal e governa o Olimpo; de fato, constantemente nós nos olhamos, às nossas ações e pensamentos, sob uma lente moral ou ideal e pesamos a nós mesmos de acordo com este ideal de ser. Daí o pai e educador sábio como ícone da Esfera de Júpiter.

Mais do que isto, Júpiter governa a expansão da consciência – sabedoria e ideais não se acumulam de forma passiva, mas num processo constante de busca, e a Esfera de Júpiter possui o caráter do Arcano Eremita ou Buscador do tarot, o pregador itinerante, cruzado, mestre e sacerdote que peregrina em busca de algo maior do que si: a própria pulsão da busca espiritual que Vênus, Fortuna Minor, inspira, mas é Júpiter, Fortuna Major, quem instiga e provoca.

Esse espírito aventureiro é marcante em Sagitário, e tanto este signo quanto a Esfera de Jupiter possuem esse perfil “Indiana Jones” e o gosto pelo exótico, pelo estrangeiro, pelas atividades esportivas e viagens: pois toda pulsão consciente de busca traz consigo um desejo instintivo de incorporar a si o diferente, de querer degustar e digerir o mundo. Não como um mero viajante bon vivant, ao estilo libriano, mas com um profundo significado de completude espiritual e apaziguamento da consciência: nos céus, a flecha de Sagitário aponta ameaçadora na direção do Escorpião, a essência da perda e da morte transmutadora – toda busca e toda cruzada se realiza para evitar ou superar uma perda, uma morte íntima. Sagitário governa a nona casa do zodíaco conhecida como Iter, A Jornada.


Foi atribuída a Jupiter a capacidade de dar boa sorte, mas justamente por sua posição no mapa indicar o campo onde reside a busca espiritual consciente é que se toma isto por inspiração, desimpedimento do caminho e sorte: pois o próprio ato de perseguir essa busca é satisfação e felicidade para a consciência, e portanto uma visão mais alegre da vida e uma percepção maior de sorte.

Entretanto, nem sempre o buscador é extrovertido ou orientado para a ação. O lado noturno, introspectivo de Júpiter é Pisces, Peixes, dono da décima segunda casa do Zodíaco chamada Carcer, A Prisão, o lar de todos os grilhões e manifestações terríficas da Psique. O nome Peixes vem de Derceto, a primeira Sirene, cuja caverna submarina matava os homens de pavor quando eles viam toda a beleza dos seus sonhos íntimos apodrecida e decaída pela ação corrosiva da realidade.

O nativo de Peixes é guiado pela mesma pulsão de busca espiritual de Sagitário, porém mais alheio às coisas externas, sendo vítima dos defeitos de Jove: ingenuidade, excesso de confiança, otimismo injustificado; entretanto, se Sagitário resume o aspecto sábio e sacerdotal de Jove, Peixes resume o potencial de transformação interna e obtenção de poder próprio: quando o Deus que Enegrece os Céus estava para ser aprisionado e deposto por um golpe conjunto de Hades, Atena e Poseidon, que queriam dividir o mundo entre si, Zeus, que contava com o apoio da sereia Thetys (simbolizando Peixes), fez com que ela chamasse das profundezas do mar um ser terrível que os deuses chamavam Briareus, e os homens Egeu, que se sentou ao lado de Zeus com tal pavorosa demonstração de poder que todos os outros deuses encolheram de terror, frustrando o golpe. O lado introspectivo de Júpiter, como neste mito, é o poder e a sabedoria de trazer à tona e fazer trabalhar a seu serviço as forças e memórias mais terríveis e traumáticas da mente.

Por isto, Jove se assenta como pai e regente entre as outras forças psicológicas, pois encerra em si o próprio senso de propósito do indivíduo e seu instinto de busca transcedente. Se realizar na direção indicada por Júpiter no mapa é um passo importante para o equilíbrio e completude interior, segurança em si e satisfação do Ego – o fortalecimento necessário para outras buscas espirituais mais amplas e terríveis. No Hávamál, Wothan adverte que a pior morte é a do covarde, de velhice e inutilidade e consciência pesada, pois a felicidade e a plenitude de si mesmo só podem provir da jornada espiritual e filosófica de cada um, a cruzada particular que Jove nos inspira a tomar.



“Aonde este caminho há de me levar, ainda... este caminho é estúpido, vai em espirais, em círculos talvez, mas qualquer caminho a que ele conduza, eu percorrerei.” (Hermann Hesse)





Ennoia, Isaria,
Aus der Lichte der Mond
Aus der Dunkel der Nacht
Nahst du dich in deiner Macht