A RODA DO
SAMSARA E OS LOBOS QUE WOTHAN DOMOU
PARTE III
– OS DOZE SIGNOS E AS SEIS CLARAS LUZES SECUNDÁRIAS
“Mesmo quando teus feitos estejam sendo contados, não fiqueis apavorado, ou aterrorizado; não mintas, e não tenhais medo do Senhor da Morte. Teu corpo sendo um corpo mental, és incapaz de morrer mesmo quando decapitado ou esquartejado. Na realidade, teu corpo é da natureza do Vazio; não temais. Os Senhores da Morte são tua própria alucinação. O corpo de desejos é um corpo de propensões, e vazio; o sem-qualidade não pode ferir o sem-qualidade.” (Bardö Thödhöl)
No Bardö Thödhöl,
o Livro dos Mortos tibetano, existem detalhes minuciosos sobre como é a jornada
do “morto”, desde sua morte até sua próxima encarnação. O povo, e os estudiosos
ocidentais mais superficiais, acreditam nisto literalmente apenas. Sacerdotes
de vertentes do Budismo mais populistas e safadas estimulam o tipo de crença,
nas pessoas, de que seus parentes estão sofrendo tormentos horríveis no Naraka
Loka por exemplo, e na China existe até um comércio de “dólares do inferno”, um
maço de dinheiro falso que compram nos templos e queimam como oferenda ao
parente morto para que ele possa pagar suas contas no inferno, ou mesmo
subornar um Juiz.
Cretinices à
parte... a constituição fractal da realidade material assegura que, pelos
mesmos processos que regem a transmigração da alma (teoria da originação
dependente), também a mente humana transmigra, EM VIDA, entre vários planos
oblíquos de significação da estrutura cultural habitual. Isto acontece com o
trânsito dos astros através dos signos.
O Samsara, o mundo da dor e da
ignorância, pode se manifestar de uma ou mais maneiras, fisicamente falando,
mas para cada manifestação física deste universo existem seis manifestações
samsáricas (potências interferentes das modalidades estruturais das linguagens
racionais) que determinam como a realidade física será percebida e vivenciada.
No Bardö Thödhöl, descreve-se alegoricamente como a alma do “morto” (viajante,
transeunte, enfim, o que caminha) vê cada um desses reinos
ou Lokas, as luzes e paisagens que sobrevirão indicando à alma transmigrante o
seu próximo “mundo” a vivenciar.
Na doutrina budista dos
Rokudō-rinne (os Seis Caminhos), a alma transmigrada encarna em um desses seis
possíveis reinos ou Lokas, planos de realidade ontológica que determinam o viés
com que a realidade sensorial e intelectiva é percebida, atuando na estrutura
cultural habitual. Os seres progridem em Elix por ignorância dos laços que os
prendem ao Maya, segundo o princípio da originação dependente: o desejo-paixão
gera karma, e o karma, alterando a “densidade” da alma num esquema de camadas
que constitui a realidade no Samsara, a faz subir quando fica mais leve e
descer quando acumula mais karma e pesa mais; Avalokiteshvara aparece com um
aspecto próprio em cada Loka, e por seu aspecto de manifestação é possível
deduzir aonde o “morto” se encontra. Como eu já enfatizei, uma interpretação
mais refinada define os Lokas como planos não de manifestação, mas de
significação (ver a esse respeito os comentários de Kazi Dawa Samdup sobre o
Bardö Thödhöl).
É perfeitamente possível supor que
no jogo cósmico onde nós, Viryas, seres sencientes E conscientes, combatemos o
Samsara e suas forças geratrizes, o inimigo, por conveniência estratégica,
efetue uma transmigração ontológica para prender ao Karma um Virya que começou
a se mover estrategicamente, e assim anular seu movimento, como os peões no
xadrez se travam quando colocados um defronte do outro.
Supondo a possibilidade de, via um
símbolo sagrado simples ou complexo, haver uma transmigração ontológica do
microcosmo do Virya para um Loka distinto, a consciência não o perceberia, pois
suas funções internas (as esferas de sombra, os sentidos) permaneceriam
inalteradas, e a mente humana não tem uma auto-consciência imanente e perene o
bastante para perceber uma alteração de enfoque intelectivo ou plano de
significação (da mesma forma, é impossível à razão vivenciar a continuidade da
significação a não ser pela instância de significados sucessivos, como exposto
exaustivamente nos FSH1). A consciência imanente dos planos de significação e
da estrutura cultural habitual é impossível de se atingir para os que não
ascenderam ao Arayashiki, o oitavo sentido da consciência imanente e
verticalizada (curiosidade: na série de anime Saint Seiya, os guerreiros
precisaram desenvolver o Arayashiki para conseguir entrar e sair com vida e
consciência do mundo dos mortos... na verdade, tal estado permite entrar e sair
vivo e consciente de qualquer plano de significação, de qualquer exploração de
registros necessária). E exceto na hipótese de uma fagocitação da consciência
por um símbolo sagrado, uma psicopatologia neurótica ou um esforço consciente
da vontade, tal transmigração do plano de significação do Ego é possível de
acontecer por um segundo grau de determinação.
Um ataque deste grau de sutileza,
impossível de prever e pressentir, tem a virtude de capitalizar a Vontade
Egóica do Virya para uma porta falsa e mantê-lo longe de Thule. Sabido isto, é
óbvio deduzir que a transmigração, SE em S.G.D., é operada de acordo com o que
mais vai fragilizar o Virya em questão. Quando segue a sequência harmônica do
trânsito dos astros, o processo é mais linear, e eu exporei a seguir como seria
a jornada do primeiro ao último dos infernos, e o que isto tem a ver com os
Signos.
O contato inicial com a Opus de
Nimrod de Rosario costuma produzir um Kairós, uma instância onde é possível se
iniciar auxiliado pelo impulso de uma energia espiritual aterradora que se
liberta no instante do choque psicológico que tal Opus propicia. Digo “costuma”
produzir um Kairós, pois nem sempre é o caso; de todas as formas, é uma
experiência espiritual muito forte, que temporariamente multiplica a energia
psíquica e a canaliza para uma vontade expressa, a de libertação. Dado isto, a
reação da Alma, e a reação dos senhores do Karma, NA FORMA DE MECANISMOS
PREEXISTENTES NA NOSSA ESTRUTURA PSÍQUICA, começam a se articular.
Diz o Bardö Thödhöl,
alegoricamente, que o morto (alma confrontada com o labirinto) encontra a
“Clara Luz Primordial”, a própria não-substância do corpo de Vajra do Buddha
Amitayus; se o Virya reconhece essa luz como sendo a própria substância dele,
ele abandona o Samsara e jamais volta a encarnar nos mundos ilusórios da dor. Se
ao contrário ele teme a luz fulgurante, então a Clara Luz Secundária se faz
presente em seis diferentes tons, e o tom que mais atrair o morto determinará o
Loka onde deverá reencarnar. Isto quer dizer que o Virya pode sublimar a alma
no momento do contato com o Espírito, no furor inicial – perdida a chance,
vítimas da nostalgia ou de outro sentimento, ele recai no Karma e precisa
recomeçar a luta pela libertação, como o rei da Bavária que John Dee tentou
iniciar.
DEVA LOKA – O
PLANO DOS DEUSES – EIXO VIRGEM/PEIXES
Quando o Virya toma contato com
seu poder espiritual e se sente um Deus invencível, lembrando em seu Sangue que
o é, o karma começa a enredá-lo invisivelmente, de forma que pareça dobrar-se à
vontade do Virya enquanto na realidade o cerca e enreda. Se toda a energia
desenterrada da incipiente esfera Ehre não é canalizada em Tergum Hostis, ela
toda se dissipa em desejos – mesmo o desejo da libertação, o da vingança e a
vontade de poder e potência, são racionalizados e, portanto aumentam a energia
Kármica. “A César o que é de César”: todo pensamento racionalmente construído
prende ao mundo e gera karma.
O primeiro passo do Karma, que
chamaremos “Inimigo” posto que é a vontade do Rex Mundi, é transmigrar
ontologicamente o Virya, ou seja, envolver sua alma na esfera do Deva Loka, o
mais alto dos seis mundos do Samsara, onde os deuses e semideuses se deleitam
com sua própria glória. Atraído por uma terna luz branca (similar, mas inferior
em brilho e intensidade, à Clara Luz Primordial), o morto encontra templos e
mansões titânicas construídas de pedras e metais preciosos – tal é seu estado
mental. Quando isto acontece, o Virya se torna cada vez mais seguro de si e de
sua jornada espiritual, queimando todo o Vril em desejos do devir, e buscando
poder no mundo ao invés de transcender e escapar do mundo.
As pessoas tanto de Peixes quanto
de Virgem tem traços em comum. Retraídas, introspectivas e altruístas, são o
aspecto feminino da dedicação e do cuidado aos outros, puxando respectivamente
para o emocional ou para o racional essa missão inata do auto-sacrifício
ordenador do mundo. Indo mais fundo, Virgem e Peixes são as duas forças primárias
de dispersão da energia egóico-volitiva. Virgem peca pelo excesso de
detalhamento e racionalização, e Peixes por recolher todas as impressões para o
subconsciente profundo da esfera emotiva – em ambos os casos, a energia
psíquica é impedida de se transformar em ação imediata, por sentimentalismo ou
racionalização excessivos.
Signos femininos, Vesta e Derceto,
são ambos os mitos de Virgem e Peixes mitos que aparentam uma fragilidade
exterior, mas representam uma força interior de resiliência e ordenação
harmônica do microcosmo (aqui, tomar “harmônica” no sentido original de
sincronização ao plano entelequial). Se um astro está em Virgem no mapa astral,
a tendência será de uma harmonização criteriosa e racional daquele astro à sua
função arquetípica; em Peixes, se dará uma sincronização arquetípica por um
processo mais subconsciente e apaixonado, com resultados opostamente similares.
Por causa disso, este eixo
equivale ao Deva Loka, pois diz a doutrina budista que o céu dos Devas é o pior
dos infernos: um pensamento dissonante da onda harmônica pode aniquilar o
indivíduo eternamente, ou seja, estamos diante de uma poderosa força
restauradora do trânsito da alma pelos Elix.
O objetivo do Karma nessa etapa
inicial é duplo. Por um lado ele deseja justamente que o Virya em vias de
despertar adquira uma confiança imprudente e pense dominar a situação para não
perceber que sua vontade está sendo canalizada para o cognoscível e o mundano
pela racionalização típica de Virgem, mesmo com toda a roupagem espiritual que
o poder de auto-ilusão netunino de Peixes fará crer autêntico. Acontece que,
mesmo que seja uma fase de vitórias e avanços para o Virya, todo desejo
aplicado ao mundo causa energia kármica, e o segundo objetivo do inimigo é
fazer acumular energia kármica o bastante para tornar o corpo astral mais denso
e causar o afogamento gradual nas camadas inferiores do Samsara: aqui se
acumula a energia kármica para impulsionar a descida-armadilha até o Inferno.
Mas nesta fase inicial o Virya
ainda se sente importante. O próprio Belicena Villca instila nas mentes a
nostalgia pelo passado, nossas civilizações guerreiras e heróicas e a forma
injusta e maligna com que foram derrotadas, e toda a decadência do Kali Yuga.
Se o Virya não sublima essa nostalgia incorporando em si as qualidades dos
nossos antepassados, desejará recriar, recuperar, vingar ou ao menos prantear o
passado (quando o passado deveria ser na realidade incorporado e sublimado); é
esse desejo-paixão subconsciente pela própria Minne que é o primeiro extravio,
propiciando a vivência do Deva Loka e o acúmulo de Karma. Neste plano,
Avalokiteshvara aparece como Buddha brGya-byin com a flauta doce dos prazeres,
ensinando aos devas que não devem se orgulhar em demasia por sua posição no
mundo mais alto, pois eles também deverão eventualmente reencarnar. Neste Loka
o veneno agregado é o Orgulho, e pela imprudência da arrogância muitos
hiperbóreos caem no Karma.
Esta é a forma de sofrimento,
pisciano, oculto, dos Devas, deuses e semideuses do Samsara: o passar do tempo
que indica a proximidade inevitável de seu fim, a agonia das areias do tempo
fluindo rumo ao esgotamento... no subconsciente de cada Deva, no fundo das
cavernas de Derceto, existe a finitude como último pavor. O Virya preso neste
plano também começa a sentir essa agonia na forma da urgência da ação, da
necessidade de agir, e conforme o próprio mundo-Deva o rejeita por sua postura
luciférica, pervade nele um sentimento de impotência, de que deve arrumar uma
Estratégia para guerrear contra os Devas, mesmo antes de sua individuação completa.
Tal urgência imprudente desvia o foco da Gnosis do micro para o macrocósmico, e
cada vez mais se fará essencial para o Virya um tipo de “espiritualidade”
racionalmente inteligível. Ele se sentirá subitamente impotente frente aos
Devas de Shambhala, e os verá interpostos no seu caminho (quando, no início, a
pureza de sua energia espiritual poderia tê-los incinerado por Nirvana: o poder
hiperbóreo da Extinção do Manifesto). Quando o Virya então cai no desespero de
buscar uma estratégia imediata, se unindo a pessoas como ele não preparadas
para tal, Avalokiteshvara gira a roda do Karma e transmigra o Virya para o
plano imediatamente inferior.
ASURA LOKA –
O PLANO DOS TITÃS – EIXO LEÃO/AQUÁRIO
É bastante comum um círculo de
Viryas que se reúna fora de um Kairos ou onde o estado mental dos indivíduos
não está isolado o bastante, que indivíduo e coletivo transmigrem
psicologicamente para o reino Asura, onde o sentimento predominante é a inveja
alheia pelos frutos da Árvore do Conhecimento: atraído por uma terna luz verde
(como o Raio Verde que emana da Origem, porém muito inferior em qualidade), a
alma andará como que em uma floresta faérica, ou entre círculos de fogo fluindo
em direções opostas, indicando sentimentos de religiosidade arrogante e
violência como prazer. Neste Loka, Avalokiteshvara se manifesta como Buddha
Thag-Bzang-ris numa armadura de cavaleiro, erguendo uma espada para reprimir as
brigas por inveja (claro, reprimindo os que se rebelaram contra os Devas e a
ordem kármica do adharma, ou seja, nós os luciféricos).
O Asura Loka é um lugar de disputa
e guerra constante, e por esta natureza é uma armadilha fácil para os
Hiperbóreos, cuja postura rúnica expressa para o sensível o Tergum Hostis. O
Veneno Agregado que anula um Valor incipiente é a Inveja, neste Loka, mas
inveja nada mais é do que uma expressão terrífica do desejo-paixão, que provém
da ignorância da real situação do Selbst. Explico.
A própria natureza do Tergum
Hostis, recuperado gradualmente no caminho gnóstico, implica um esforço
isolante ativo, possui uma natureza ígnea, ativa. A maioria dos Viryas traduz
tal natureza ígnea pela esfera astrológica de Marte, a ação, a guerra, a
atitude viril; porém, pela ignorância da real situação, absolutamente
transcedente, do Selbst, deduzem que necessitam de alguma forma de ação externa
para si próprios, a priori da orientação absoluta. Então, pela força da
ignorância, o desejo-paixão se manifesta de forma marcial pela vontade de
guerra, pelo orgulho marcial, e sem perceber os Viryas são privados de sua
jornada isolante e caem na atitude de amor mundano pelo samsara, ao querer
transformá-lo: para um Virya extraviado dessa maneira, a cultura, a política,
os caminhos e descaminhos do mundo serão de grande importância, e ele nutre um
desejo de transformação radical da realidade do mundo que, por nobres (e não
raro nobilíssimos) que sejam seus objetivos, nada mais são que amor ao mundo,
um amor que exige uma purgação prévia para poder ser expresso e fruído.
Astrologicamente
falando: a agonia pisciana causada lá atrás no Deva Loka pela consciência da
finitude se traslada para Aquário, seguindo o “caminhar do Sol”; Aquário,
regente da casa gregária e social chamada Benefacta, dará à psique do Virya um
enfoque coletivista para a Gnosis; ele buscará avidamente seus iguais, e
associar-se e fechar-se em círculo adquire uma preeminência maior do que o
caminhar individual.
Indo
mais fundo: enquanto a ideia sintética por trás do eixo Virgem/Peixes é o
Sacrifício do Ego pela harmonização arquetípica, a do eixo Leão/Aquário é a de
Redenção pela Dedicação (aplicação da vontade consciente capitalizada por um
símbolo agônico): o Aquariano, gregário, tenderá a sempre se dedicar a algo de
maneira sacralizante como forma de redenção pessoal, e o Leonino, pensando a
mesma lógica na direção inversa, sempre tenderá a oferecer e exibir ao mundo o
que ele julga de valor em si, esperando uma valoração positiva do mundo –
definindo a si mesmo em termos desta valoração. Vale a pena notar que até aqui,
e na verdade SEMPRE, a ação dos signos será a de capitalizar a vontade e
neutralizar seu caráter egóico.
Leão,
regido pelo Sol, cujo coração Regulus é um dos quatro Grandes Arquitetos
Celestiais que regem o plano material (os demais sendo Fomalhaut, a Boca do
Peixe, com seu famoso formato de olho de fogo; Antares, a Cauda do Escorpião; e
Aldebaran, o Olho do Touro), é um signo extrovertido e de coração aquecido.
Aquário, mais racional e frio, é sua antítese aparente, mas ambos se unem
arquetipicamente na questão da anulação da autopoiesis do Ego, na definição de
si mesmos a partir da valoração externa. São forças que geram este extravio do
Ego, e representam o céu dos Asuras ou Titãs que estão em eterna disputa, pois
o poder interno se perdeu, e tenta-se recuperá-lo exercendo poder sobre outrem
ou outra coisa.
Aqui, o cerne do extravio está em
supor um vir-a-ser, de si ou do mundo, mensurável e qualificável, sendo que o
Ser é absoluto (a princesa Isa advertiu Nimrod de que, em seu retorno, ele
despertará de tal forma que parecerá que todos os Kalpas de aprisionamento
terão sido um efêmero segundo) e não pode vir-a-ser, mas é imutável em seu
corpo incorruptível de Varuna-Vajra, o verbo diamantino do Fogo Frio
absolutamente imóvel em Si Mesmo. Isto significa que o Virya crerá na
necessidade de criar algo para o mundo para poder vir a ser, para cumprir com
uma meta ou uma noção de Honra (lembrando, de Nimrod de Rosario, que “Honra” é
tão-somente a resignação de símbolos ontológicos: nenhum código moral ou de
conduta, mas toda a liberdade e poder latente do Caos na resignação sêmica, na
purificação da Ignorância).
Presos em Asura Loka pela projeção
temporal do Ser, os Viryas desprendem sua energia no mundo sensível e para o
mundo sensível, dependendo da companhia, da colaboração e acima de tudo do
feedback de outros (tendência gregária na formação de círculos e no convívio em
círculo); sendo mais político, ideológico, dialético, do que propriamente
espiritual (portanto, em-tempo e cultural); colocando uma missão “para os
outros” em destaque, buscando agir na macroestrutura fora de um Kairos
coordenado por um Centro Carismático transcedente, na esperança de que a dedicação
a outrem purifique o próprio sangue, sendo que a purificação absoluta, o
conhecimento alerta de si mesmo, é requerida a priori de qualquer movimentação
macrocósmica por uma questão mesma de segurança e de se saber o que faz;
finalmente, após mergulhar no desejo-paixão de reforma do mundo, de purgação
beatífica pela ação e de heroísmo salvífico (repito: frutos da Ignorância da
natureza eterna do Eu e da ação dos Khairé), o Virya cai nos estados mais
baixos possíveis de paixão dentro do Asura Loka. Seu comportamento se
assemelhará ao dos próprios Asuras, que são como deuses, mais impulsivos e
arrogantes, menos benevolentes e menos impassíveis do que os Devas.
Uma nota
importante: não faço nenhuma crítica às estratégias
psicossociais e macrocósmicas EM SI, nem à sua utilidade ou necessidade; o que
estou descrevendo são indivíduos que buscam uma ação exterior a priori da
interior, por temer a ação interior necessária, ou achar que vá ser
"salvo" pela dedicação a uma ação exterior.
Já neste ponto, o desejo-paixão,
força geratriz do Karma, fez acumular no Virya uma quantia já considerável de
energia kármica, que implica maior cegueira e ignorância, e por isso sua
atitude decai. Neste Loka, isto significa que a Gnosis se transformou primariamente
numa questão coletiva, do e para o coletivo, e os rumos da política ou o
atavismo de um antigo ideal significarão mais que a interiorização. É a
preeminência do externo sobre o interno. Disto se segue um comportamento
totalmente voltado para o gregário (logo agnóstico) que se torna político em
essência, a própria essência venenosa do Asura Loka: desejo de poder e
proeminência, inveja, malícia, e uma atitude lúdica e teatral em relação ao
próprio Ego, que precisa agradar e ser apoiado por outrem. Um Virya neste
estado verá beleza e valor somente naquilo que “transforma” o mundo, que dá
resultado: por incrível que pareça, é comum mesmo no métier ocultista achar uma
mentalidade Realpolitik, pragmática, voltada para resultados. A forma da ação
toma proeminência por sobre sua essência sêmica, noológica, que fica sutilmente
em segundo plano, ainda que não se o perceba. Moralismo. Melancolia patriótica
e geosófica. Ligação sentimental com a terra ou com a pátria. E o pior de tudo,
uma soteriologia subentendida que é francamente vergonhosa para alguém cujo
objetivo é a individuação ôntica.
No final do Sidpai Bardo, na
iminência do renascimento, a consciência escolhe sua matriz para o
renascimento, porém quanto mais impura a massa que constitui essa matriz, mais
atraente será seu cheiro – quem tem ouvidos que ouça.
Aos presos neste Loka, o
ensinamento taoista do ser-pelo-não-agir (em-tempo) será pior compreendido como
covardia ou apatia, ou se compreendido, será temido e tomado por absurdo. E tal
incompreensão deriva da Ignorância mencionada: crerão no vir-a-ser (fazer
acontecer) e estarão tomados de paixão por formas eidéticas ou morais, lúdicas
ou sacralizadas, do Mundo.
Além deste ponto, o Virya não mais
conseguirá ou desejará verdadeiramente olhar para dentro de si, pois o
desejo-paixão mundano terá tomado toda a Vontade efetiva. Sentirá uma confiança
exterior em sua imagem lúdica projetada de guerreiro ou iniciado, mas
interiormente será devorado pelo próprio Tergum Hostis do Espírito que começou,
lá atrás, a despertar.
MANUSIYA LOKA
– O PLANO DOS HUMANOS – EIXO CÂNCER/CAPRICÓRNIO
Tal choque essencial gerará a
tensão suficiente para que Avalokiteshvara gire a roda do karma e o Virya seja
transmigrado do Asura Loka para o Manusiya Loka, o Mundo Humano, atingido pela
junção de paixão, desejo e dúvida. Atraído por uma terna luz amarela, o Virya
assumirá este plano que, segundo algumas fontes, é o único dos seis planos a
partir do qual é possível escapar ao Samsara, e compreendendo os Lokas como
estados mentais entende-se a advertência do Pontifex de que um equilíbrio
perfeito entre as esferas afetiva e racional é essencial para apontar a
consciência ao Selbst. Avalokiteshvara aqui se manifesta como o Buddha
Sakyamuni que anda com o cajado e a tigela de mendigo para ensinar a humanidade
a rejeitar a ignorância do ódio (ou, usando uma linguagem cabalística,
substituir a águia pela pomba...).
Como um reforço geográfico a esta
idéia de centralidade, as cúspides das casas 4 e 10, regidas por Câncer e
Capricórnio, ocupam respectivamente as posições do Sol à meia noite, e ao meio
dia, ou na terminologia astrológica, Imum Coeli e Medium Coeli; o plano humano
é o ponto decisivo intermédio onde todas as emoções e pensamentos dos outros
Lokas confluem, e o objetivo da neutralidade se torna mais palpável.
A palavra-chave para a ação
psíquica do eixo Manusiya, composto por Câncer e Capricórnio, é
"âncora": o mundo humano, sempre pendendo num equilíbrio de fio de
espada entre o animal e o divino, vive sendo arrastado do divino para o animal
de maneira dolorosa pela ação do Kaly Yuga. Nos aferramos à personalidade
encarnada desde o nascimento do Ego, pois Câncer, regido pela Lua, é a própria
geratriz primitiva do Ego, cuja matriz são as reações subconscientes que se
acumulam e são estruturadas a posteriori pelo Sol. E no entanto, e aí está a
armadilha, justamente por ser o Ego um construto cuja matéria prima vem de fora
(dos símbolos que impactam a esfera de sombra), ele depende eternamente dessa
retroalimentação externa: no mito de Capricornius, os filhos de Pricus eram
irracional e irreversivelmente atraídos pela terra firme, e continuavam
correndo do mar para a terra por mais que isto significasse a anulação de si
mesmo, a animalização do ego (proeminência das reações da esfera de sombra).
Isto porque Capricórnio explora justamente a incompletude canceriana do ego, e
tenta criar novas âncoras, novas formas de estima através de objetivos
idealizados, do status, das responsabilidades, da profissão, da disciplina, papéis sociais, e de todas as
cadeias auto-impostas que, na lógica capricorniana, conferem ao Ego dignidade,
honra e identidade.
Em resumo, esta ação dual de
Câncer e Capricórnio de retroalimentação do Ego através das relações
arquetípicas de valoração e sentido prendem fortemente a consciência à projeção
temporal, arquetípica, de um Self eternamente em construção. Este, absorto em
suas maquinações e considerações “Estratégicas”, quando sofre a transmigração
de Asura para Manusya não perceberá nenhuma mudança no pensamento, mas
intimamente a importância relativa dos fatores mundanos (não necessariamente
materiais mas arquetípicos, racionais) na formulação da estratégia, e na
vivência da Gnosis, o afastará brutalmente da orientação. É o ponto onde nas
mitologias antigas se exclamou, “os Deuses nos abandonaram”, e que na carta de
Belicena Villca se chama “Fadiga de Guerra”. A queda ao terceiro dos seis
planos do Samsara traz uma sensação esmagadora de que “a magia se foi”. Sendo
que a "magia" nada mais era do que a ciência da elevação e
destacamento de Si Mesmo, a orientação Vertical.
Mesmo que não afetado na sua
vontade de lutar pela orientação, a fadiga de guerra faz com que o Virya
desaprenda o Vertical, o Caos como redenção contra a ordem; ele pensará
arquetipicamente, e agirá arquetipicamente, caindo no Labirinto. Aqui, não
adianta o quanto se conheça dos princípios espirituais da via da Mão Esquerda,
pois o íntimo, o coração, não saberá mais operar com a vontade egóica, amoral,
ilógica, despreocupada com o externo. A moralidade prevalecerá sobre a Gnosis.
Perdido o princípio
verticalizante, o Virya estará sujeito totalmente à vontade do Karma, e como os
milhões de europeus que lutaram inconscientemente pelos princípios hiperbóreos
de Montségur e de Wewelsburg sem conseguir se libertar pela morte em batalha, é
castigado pela grande mãe compassiva que gira a roda do Karma e o reduz a um
animal.
TIRYAGIYONI LOKA - O REINO DOS
ANIMAIS - EIXO GÊMEOS/SAGITÁRIO
Isso não deve necessariamente ser
entendido no sentido literal. O Virya é reduzido ao princípio animal quando
sofre a transmigração do Manusya Loka para Tiryagyoni Loka. Aqui é o fim do
engano estratégico sutil e o início do castigo kármico deliberado e sádico.
Atraído por uma terna luz azul como as águas da subconsciência, a alma verá
brumas, cavernas e buracos profundos na terra, todos sinais do difuso, do
confuso e pouco discernível.
Lembrando que ainda o Virya se
sentirá espiritual e com vontade de lutar, pouco antes ele perdeu o gnóstico, e
em Tiryagyoni Loka ele perderá também a segurança no raciocínio, caindo na
aflição de precisar buscar mais conhecimento, como os animais que chafurdam na
estupidez: o Virya se sentirá estúpido, logo desta transmigração.
Avalokiteshvara aparece como Buddha Seng-ge rab-brtan que carrega o livro do
conhecimento, e o Virya, sentindo-se impotente por seu conhecimento parco do
mundo, buscará retomar a Gnosis perdida pelas vias da razão, do estudo das
ciências arquetípicas e ocultas que, ele sente, lhe trará de volta o poder
perdido. Ou mesmo buscará os conhecimentos do mundo, pois pensa que tal
conhecimento o deixará mais combativo.
Vale frisar, porque nunca é
demais, que "renascer" no mundo animal não significa necessariamente
nascer do ventre de uma coelha ou de uma vaca... o que diferencia os animais do
restante dos humanos é a insuficiência do conhecimento consciente, ou seja, uma
maior aderência aos mecanismos racionais, emocionais e instintivos da Esfera de
Sombra - como se a ação dos astros sólidos, de Mercúrio a Marte, tivessem uma
força esmagadoramente superior à dos astros da esfera de luz, os planetas
gasosos.
Ora, qualquer pessoa, como a
maioria dos Pasus e os que tendem a um comportamento Pasu, são animais neste
sentido, pois têm a cada instante seu pensamento e sua vontade condicionados
pelos mecanismos da Esfera de Sombra, e construídos pela estrutura cultural
habitual. A Consciência, diria Gurdjeff, é um luxo. Um luxo de poucos que
conseguem escapar do arquetípico, do precondicionado.
Gemini, regido por Mercúrio, é a
personificação do pensar racional, como a Lua o é da esfera afetiva; seu
complemento arquetípico é Sagitário, que representa um impulso, um desejo, de
partir da esfera racional rumo à esfera de consciência. O Virya transmigrado ontologicamente
para Tiryagiyoni Loka viverá esse fluxo constante entre a consciência apontando
a insuficiência do conhecimento, remetendo a Gemini, e da esfera racional
desejando a elevação da consciência, remetendo a Sagittarius, que tenta espiritualizar os argumentos de gêmeos mas é sempre determinado sêmica e dogmaticamente, numa gangorra de
aflições que desgasta ainda mais o Virya e o afunda em argumentos kármicos.
Isto significa a queda do humano
pelo animal, pois a Gnosis perde até o enfoque de uma práxis da esfera de
consciência e passa a ser enfocada a partir da esfera racional como corpo de
conhecimentos; se afastando ainda mais da pureza original de seu poder, o Virya
buscará poder no mundo, no conhecimento do mundo, na política, nas fantasias
militares, e quaisquer subterfúgios que possam auferir poder de transformação
do mundo sem efetuar mais o olhar introspectivo (exceto para externar
passivamente os sentimentos e símbolos que inundam a esfera de consciência). O
próprio signo da serpente emergirá na mente do Virya com um peso aterrador,
representando a impossibilidade da libertação espiritual e emanando sentimentos
de intimidação perante os milhões de reflexos mundanos do inimigo.
Os Viryas em Tiryagyoni Loka,
aflitos pela insuficiência do conhecimento, estão quase destruídos por dentro,
pois a tensão entre a hostilidade do Espírito e o desejo-paixão da Alma pelo
signo da serpente gerará uma dor anímica que o Virya preferirá não prestar
atenção, se chafurdando mais e mais no macrocósmico.
PRETA LOKA - O PLANO DOS ESPECTROS
FAMINTOS - EIXO TOURO/ESCORPIÃO
Acumulando mais desejo-paixão, e
já mundanizados e sem praticamente nenhuma confiança real em si mesmo ou
memória da auto-afirmação gnóstica (cuidado para não confundir com projeção
lúdica), gira-se mais uma vez a roda do Karma e o Virya cai rumo ao Preta Loka,
o reino dos espectros famintos que estão abaixo dos homens e animais; atraídos por
uma terna luz vermelha como o sangue derramado, a alma verá grandes espaços
desolados, florestas destruídas e selvas hostis como sinais de que transmigrará
em um espectro faminto: neste reino sente-se uma fome e uma sede insaciáveis,
um impulso sempre na agonia de querer realizar sem que nunca consiga; o
aprisionamento neste Loka atinge a todos os que idealizaram o irreal e o
sacralizaram noologicamente. Avalokiteshvara aqui aparece como Buddha
Khar’Bar-ma, que “ensina a perfeição da generosidade” (uma tentativa de
canalizar a tensão agônica espírito-alma para a expressão de uma vontade
consciente que outorgue sentido aos
entes).
Os Pretas, na representação
popular, são fantasmas, que vivem a agonia da fome e da sede, por terem sido
avaros em vida, então aparecem mãos invisíveis para surrá-los quando se
aproximam de água; ou têm fogo na boca para não conseguirem comer; ou então têm
a garganta da espessura de um fio de cabelo, etc, etc, etc. Taurus, o Touro,
representa a segurança na forma, no palpável; regido por Vênus e a esfera
afetiva-consciente, sofre a agonia do desejo de segurança, de saber onde pisa.
Scorpio, o Escorpião, por outro lado, é justamente a perda da segurança, é o
imprevisível, é a privação e o conjunto de transformações da realidade que
intensifica o desejo taurino por sentir-se "em casa": porém, em
Scorpio, não há casa, não há nada no mundo que não se possa perder ou ver
transformado.
O eixo arquetípico Taurus/Scorpio
age nos indivíduos menos capazes de se aferrar à consciência, à
individualidade, e estimula neles o desejo de paz, de cessação da dor, de
sentido para castigá-los karmicamente pela morte e transformação de todas as
coisas desejadas.
A manifestação dessa eterna sede
que castiga os espíritos presos no mundo-Preta se dá na forma da melancolia, na
saudade da aristocracia perdida e dispersa em pequenos fragmentos cada vez mais
raros quanto mais baixo desce o mundo na roda deste Yuga. Como espectros
famintos, buscarão com voracidade estes pedacinhos da nobreza perdida esparsos
pelo mundo, na Ignorância que a nobreza é auto-outorgada e consiste justamente
na capacidade de transmutar e criar para si novos valores que exaltem a Força
própria. Como Nietzsche expressou mais de uma vez no seu Zaratustra, a Vontade,
o Assim Eu o Quis, santifica mesmo o pior dos males, e “esta coroa de rosas,
com ela coroei a mim mesmo” – “quem será mais ímpio do que eu, para que me
regozije de seus ensinamentos”...
Neste estágio, o dogmatismo moral
é inevitável, pois o Preta tentará encontrar uma fonte superlativa para os
estilhaços de Espírito que vive a catar. Não percebem que a manifestação que
buscam independe de qualquer código moral, de conduta, religioso ou ideológico.
Os Viryas quererão e tentarão ser o mais dogmáticos possível, tentarão
delimitar a linha entre o nobre e o decaído, entre Espírito e Matéria, mas só
conseguirão assim ver uma dupla determinação ontológica em cada ente e se
confundirão, traçando no chão uma espiral ao invés de uma linha reta.
No mundo dos Pretas, a
Espiritualidade inicialmente pura se transforma em puro instrumento de revolta,
e assume-se uma postura em tudo reativa e negativa, dialética, propagandística
até, numa tentativa de redimir pela combatividade a tensão interna entre um
Espírito revoltado e uma Alma que ama o mundo através do ódio e nutre desejos por
ele (mesmo que destrutivos). Não se sabe mais, neste ponto, como orientar-se de
fato. A única forma de purificação do Preta Loka é adquirir Sabedoria pela
leitura e apreensão disciplinadas para que a via condutora reapareça diante de
um Parsifal que se despiu de seus desejos mundanos e nu descobriu o castelo do
Gral. É preciso aceitar os processos de perda e as mortes anímicas, ao invés de
lamentar e desejar a restauração de uma "normalidade" que, para o
homem essencialmente espiritual, jamais existirá.
Um assim tornado Preta sentirá um
desejo irresistível de mostrar e demonstrar, quase como troféus ou sinais da
esperança profunda de saciedade (saciedade que nunca chega), seus achados, e
gastarão sua energia em falar e demonstrar e pregar. Chega-se ao ponto mais
baixo da mentalidade judaica que Ezra Pound atacou: o agir dialético, a luta de
argumentos, a gnose que desce ao reino inferior da Lógica e do embate
dialético, a dualidade maniqueísta perde seu efeito verticalizante e isolante e
se torna moral.
Pensando em termos temporais, a
estadia no Preta Loka é a mais prolongada; isto porque o Virya aqui está, em
termos gnósticos, praticamente destruído, e isto pode ser sentido mesmo
naqueles que mais expressam vontade e confiança, por sua recusa terminal em deixar
o mundo ao seu devir e olhar para dentro de si mesmos. Na realidade, o Virya
permanecerá aqui sustentado apenas pela sua vontade de lutar a guerra
essencial, derradeira manifestação do Espírito (não nos esqueçamos de que
Scorpio, regido por Plutão e por Marte, é um signo essencialmente guerreiro):
enquanto houver vontade, os Devas manterão a psique do Virya desorientado nesse
Loka espectral e agonizante, pois o grau de agonia do inferno logo abaixo desse
poderia ter um efeito adverso, fazendo o Virya explodir o Vril num acesso de
Ira durante o qual recuperasse sua orientação. Alta sabedoria dos torturadores:
a tortura que causa mais sofrimento e agonia, a que paralisa a vontade, não é a
tortura mais intensa, mas a quase-mais-intensa, a que mantém uma mínima e
velada ameaça de piora.
“Nossas mentes, como macacos excitados,
viveu em ciclos de miséria desde a mais remota memória. Nos acostumamos a estar
expostos a uma chuva de todos os tipos de sofrimento. Nos arrastando nas
correntes de uma grande variedade de corpos, nos arrastamos de novo e de novo
para a grande montanha da roda do renascimento. Mas ainda há algo difícil de
percebermos, de reconhecermos, pois nossas mentes estão lotadas com os hábitos
de sofrimentos passados. Precisamos buscar, desde o início, controlar este
macaco excitado – a mente voando constantemente de uma coisa a outra. Se
falharmos nesta tarefa, só nos resta o tormento incessante dos Lokas
inferiores; trancados no círculo dos nascimentos pelos inimigos de nossas
próprias mentes, para sempre perderemos a chance de felicidade”. (do texto
“Casa do Tesouro do Mais Alto Conhecimento”, de Vasubhandu, 350d.j.c.)
Como dito pelo mestre hindu, todo
este sofrimento se deve a algo “difícil de percebermos”, e que consiste no
Espírito em si como princípio autopoiético, no voltar o olhar para si,
verticalizando o tempo transcedente do vir-a-ser para um plano oblíquo onde o
Ser é imanente. A perda desta consciência permite cairmos no ciclo das
causalidades arquetípicas que constitui o Samsara, e portanto estarmos sujeitos
ao Karma ou o conjunto das “leis” causais. No entanto, mesmo com a aura tingida
de vermelho pelas aflições do Preta Loka, ainda há o último e mais resistente
elemento gnóstico que mantém o Virya a um fio de navalha do abismo de
sofrimento total: a Vontade de libertação, ainda capaz de extrair das
profundezas do corpo astral algo de Vril.
NARAKA LOKA - O PLANO INFERNAL -
EIXO ARIES/LIBRA
A última e definitiva queda ocorre
quando o Virya abandona conscientemente o desejo e a Vontade de libertação, e
abdica do Espírito, que passa a odiar e ver como a causa de seu sofrimento.
Após um curto hiato onde ele falsamente se crerá aliviado, a roda do Karma irá
girar e prender o Virya de uma vez por todas no Naraka Loka, o próprio Inferno.
Atraído por uma luz cinza-esfumaçada, a alma ouvirá berros de tormento e verá
paisagens desoladas com casas totalmente escuras, tal será seu estado mais
íntimo. O Loka chamado de Naraka ou Naraya submete os penados a extremos de
calor e frio, tornando o próprio existir insuportável. Avalokiteshvara aqui
aparece como Dharma-Raja, o próprio Juiz das ações dos seres (na mitologia
grega, este ser está separado como uma trindade – Iaco, Radhamantys e Minos – o
que me faz pensar sobre a própria Trindade cristã ou o Trimurti hindu, como um
mecanismo inerente à Esfera de Saturno...), carregando água e fogo para aliviar
os extremos de temperatura e assim ensinar aos seres do Inferno a “Perfeição da
Equanimidade”.
A lição do Inferno seria a
Equanimidade, pois os extremos de temperatura significam que a mente está
sujeita ao extremo ao desejo-paixão animal, sem quaisquer outras considerações,
atraindo karma para si numa taxa exponencial e incessante. Aqui estão todos os
descontrolados ao extremo, impulsivos, desesperançosos e sedentos em “viver a
vida” sem mais, para sempre presos às conseqüências kármicas de seus desejos
anímicos, conseqüências que serão mais brutais e sádicas quanto mais no passado
o Virya experimentou do fruto da árvore proibida da Gnosis.
Estar em Naraka significa o Karma
mais pesado concebível, justamente por estar entregue e passivo diante do
desejo-paixão anímico: não haverá, aqui, nenhuma reação consciente aos desejos,
nenhum pensamento crítico, apenas um seguir cegamente aonde a luz das paixões
conduz a mente. Tal impulsividade irrefletida é o signo de Aries agindo na
esfera de sombra, identificado com o fogo primordial, com o Principium que é
pura moção e ordena os entes temporalmente - o Demiurgo, Prajapati, criou antes
de qualquer coisa Agni, o Fogo, que sendo primitivo e descontrolado quase
devorou e incinerou seu pai aterrorizado. Do lado da esfera de luz, Libra representa
o oposto: a reflexão sem capacidade para agir, a consciência lúdica ludibriando
a si mesma para justificar a indulgência com a qual permite a si mesma os
excessos danosos da alma. Tal tensão agônica entre uma vontade inconsciente e
uma consciência apática, comedida e ponderada em excesso, presa em
racionalizações, faz com que o indivíduo fique sem rumo, sem responsabilidade
sobre a própria vivência sobre a terra, sendo o passageiro impotente daquela
carruagem descrita por Gurdjeff e Ouspensky que, descontrolada, ruma
inexoravelmente para o abismo e a morte do passageiro.
Esta impulsividade do desejo, a própria
essência de Áries, pode ser sublimada com a equanimidade e a temperança de
Libra, assim como Shiva com um movimento simples da mão incinerou o outrora
temido deus Kama, o Desejo, mas quem cai em Naraka Loka possui contra si as
forças mais esmagadoras que não permitirão sua subida aos planos superiores,
conscientemente: sua única esperança é que o Espírito semidesperto supere em
algum momento a Alma mortal e, apesar da consciência abatida ou agindo contra
ela, logre despertar num plano oblíquo... porém, a Luz Não Criada que pode
inspirar o Espírito a agir de tal forma só virá, provavelmente, quando a Wildes
Heer desça sobre a terra e a Virgem de Agartha finque seus estandartes sobre as
muralhas de Shambhala. Isto significa uma quase-impossibilidade de despertar
consciente – de fato, contam os budistas que o período de encarnação no mais
leve dos infernos pode ser contado enchendo um barril de sementes e retirando
apenas uma semente a cada cem anos terrestres...
RESUMINDO TUDO
Eis a descrição dos seis Venenos
Agregados ou Lokas, os “planos do desejo” que constituem o Samsara: todo o
Universo do Uno está estratificado nestas seis esferas, mais dezessete que
constituem os “planos da forma” ou plano Arquetípico, e outros substratos mais
sutis e incompreensíveis à razão humana. As Mônadas estão fadadas a repetir o
ciclo do Samsara ou serem incorporadas ao Uno nos planos sem forma. A
purificação de semelhante veneno foi o que Nimrod de Rosario buscou fornecer
com suas obras mágicas, entretanto o próprio processo de leitura sujeita os
Viryas aos mecanismos kármicos de transmigração ontológica, provocados ou por
um segundo grau de determinação ou mesmo por um desvio de foco da Vontade que
soergue e inunda a consciência no contato com a Opus de Nimrod: se isto
acontece, o Virya não compreendeu a extensão enorme do conceito de ocupação e
cerco, extensão que vai das posses materiais grosseiras aos mais intrincados
valores morais e traumas da mente subconsciente. Todos os quais precisam ser
suficientemente arquemonizados para quebrar a cadeia das relações de sentido e
alçar o Vôo do Pégaso. Mas a falta de tais “asas” capitaliza a vontade do Virya
para o devir do Mundo do samsara.
Literalmente, de boas intenções o
Inferno está cheio: o discurso da maioria dos Viryas é nobre, mas são
corrompidos desde o interior da alma pela transmutação da Vontade de Libertação
acima-do-tempo (Kairós iniciatório perdido por impureza espiritual) em Desejo
de Poder em-tempo (Deva-Loka), e como conseqüência lógica em Desejo de Guerra
contra-o-tempo (Asura Loka), quando o Vril já está acomodado como uma pilha para
o funcionamento da Alma que, condicionada pelo substrato cultural fornecido
pela teoria que sustenta a Gnosis, perderá a prática gnóstica em si
(Manusya-Loka). A partir de então, a Gnosis se perderá como práxis e se buscará
fonte de poder nos conhecimentos arquetípicos (Tiryagyoni-Loka), gerando um
vazio interno e uma tensão Espírito-Alma na forma de sofrimento, quando se
buscará fora de si, no macrocosmo, na história do mundo, exemplos que relembrem
os fragmentos de Espírito perdido (Preta-Loka). Um dia tal busca levará o Virya
à exaustão e, acenando com a rendição, ele será liquidado (Naraka-Loka).
Nimrod de Rosario avisou em suas
duas “Cartas aos Eleitos” que a Sabedoria dos Siddhas promete E fornece um
grande poder. E que no entanto apenas os mais fracos desejariam usá-la para
intervir no devir do Samsara – não o disse como um julgamento moral pois não há
moral nem mal nem bem, nem julgamento dos Siddhas, mas que seria um
desperdício: Nimrod o sabia. O que o Pontífice quis também dizer com isso era
para se ter MUITO cuidado com a preeminência dos fatores arquetípicos sobre os
efetivamente gnósticos. A missão para seus Cavaleiros Tirodal, que ainda
existem por mais que se diga o contrário, era se preparar e aguardassem, em
alerta, para enfrentar com Honra o próximo Fim da História, justamente para que
se possa, sob cerco, produzir em si as transformações necessárias para escapar
à roda de Avalokiteshvara. É necessário sublimar com a força de resignação do
Vril todas as formas com que a Alma nos prende aos Lokas deste Samsara, e
arquemonizar nossa esfera de consciência contra as projeções do subconsciente,
resignando os venenos agregados sucessivamente, um após o outro. Nós que ainda
não estamos totalmente libertos perdemos uma chance preciosa ao final da leitura
do Belicena Villca. Cabe a nós recuperarmos a Honra cumprindo com a real missão
deixada a nós pelo Pontífice, de nos prepararmos e estarmos alertas no sentido
de jamais desperdiçar nossa energia espiritual alimentando desejos internos de
interferência no devir do mundo.
A todos os Espíritos atormentados
e confusos – aferrem-se firmemente à Canção do Pontífice, e a nada mais. Na
direção dela está o ponto de fuga da Roda do Zodíaco.
PRÓXIMOS PASSOS
Existem,
além dos astros, pontos específicos que são intersecções de órbitas, ou
aspectações múltiplas, a se calcular no Zodíaco. De suma importância são os
nodos norte e sul, entidades
matemáticas ou "planetas-sombra" (chhaya graha) visíveis
durante eclipses, que os hindus identificaram com Rahu e Ketu, os lobos que
atormentam a carruagem de Surya (o Sol), e que são ligados arquetipicamente a
Gere e Freke, os lobos de Wothan. Estas duas entidades ajudam a desenhar no
horóscopo a direção do caminho entelequial da alma nesta encarnação específica,
e por conseguinte fornece um indicativo do que seria um ponto de escape na roda
do Zodíaco. Falaremos sobre isto em alto grau de detalhe no próximo artigo, a parte IV desta série!
Por último, na parte V, darei, depois de todas as informações básicas, a técnica de interpretação do horóscopo com base e referências analógicas aos modelos psíquicos desenvolvidos por Nimrod de Rosario."Era ISSO a vida? Pois bem, mais uma vez!" - F.W. Nietzsce
Ennoia, Isaria,
Aus der Lichte der Mond
Aus der Dunkel der Nacht
Nahst du dich in deiner Macht